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Criar o mais belo país do mundo*

Tornou-se um hábito demonstrar que Portugal vive num tipo de depressão colectiva. É com grande dificuldade que o país ganha alguma auto-estima para poder acreditar em si próprio. Esquecemo-nos com frequência que esta nação possui mais de 850 anos devendo por isso assumir-se como um país com maturidade suficiente para decidir o seu futuro. Infelizmente os bons exemplos não fazem vender jornais, contudo eles existem. É dessa capacidade de tomar iniciativas positivas, de abraçar grandes causas, de lutar por um futuro melhor e por uma melhor qualidade de vida, de que quero falar hoje.

O ambiente, que há alguns anos atrás era olhado como uma espécie de doutrina para um clube de iniciados, “cabeludos e mal-encarados”, é hoje preocupação de qualquer Governo. Não é menos verdade que as medidas tomadas nem sempre são as melhores, tal como não é menos verdade que há interesses instalados que impedem um desenvolvimento sustentado e sustentável. O mesmo é dizer um desenvolvimento alicerçado em boas condições ambientais.

Recentemente o Parlamento chumbou uma proposta de criação de monopólio nos resíduos urbanos. “É uma gota de água num oceano”, talvez, mas é a prova de que há vontade em lutar contra os interesses estabelecidos. O Governo colocou em discussão pública, até 15 de Junho, o PNALE II, segundo este programa a indústria terá de emitir menos nove por cento de gases do efeito de estufa entre 2008-2012. De imediato se afigura a questão: tal será suficiente para cumprir Quioto? Pessoalmente, julgo que isto não é suficiente, mas temos agora um instrumento legal que nos permite contribuir para o debate de ideias que poderão melhorar o programa. Decerto será mais fácil dizer, daqui por uns anos, que Portugal não cumpriu Quioto.

Todavia se isso acontecer é porque aqueles que fazem tais afirmações não tiveram coragem de dar o seu contributo para que o inverso tivesse vencido. Não tiveram a coragem de se juntar a organizações que lutam por um futuro melhor, associações conhecidas pelo seu apego a uma causa como a Quercus, a LPN, o Geota e tantas outras, às quais devemos um ambiente melhor ou, pelo menos, o facto de não termos um ambiente pior.

A onda de apoio que se criou em torno da selecção nacional de futebol é a prova de que os portugueses são capazes de se unir para lutar por uma causa. É agora necessário transferir essa mobilização para outras causas, entre as quais devemos incluir as preocupações ambientais. Não basta que os governantes incluam o ambiente nos seus programas, é necessário que toda a sociedade participe de forma activa nestas questões.

Entre 31 de Maio e 22 de Junho está patente ao público, na Assembleia da República, uma exposição subordinada ao tema “Desertificação e Desenvolvimento Rural”. A desertificação, causa de pobreza, pode e deve ser um dos problemas que exige uma mobilização de toda a sociedade.

A luta contra a desertificação exige uma resposta às necessidades específicas para a actividade das populações afectadas, o que implica um aprofundamento da democracia e uma melhoria do conhecimento científico, o que nos compete a todos conseguir. São prova do empenho de associações da sociedade o projecto “Castro Verde”, promovido pela LPN, ou os projectos “De olhos na floresta” e “Poupar água”, da Quercus. O primeiro visa os objectivos do “Programa de Acção Nacional de Combate à Desertificação”, é um projecto-charneira que desenvolve ensaios e campos de demonstração de medidas concretas de protecção do solo, vegetação, água e fauna, os outros programas respectivamente, incentivam a juventude a colaborar na vigilância e prevenção de fogos florestais e apoiam os melhores projectos de boa gestão do recurso água. São projectos como estes que nos dignificam, resta-nos assumir o compromisso de participar nessa luta. Se criar a mais bela bandeira do mundo foi um desafio vencido, então vamos agora criar o mais belo país do mundo…

Por: Telma Madaleno

* Título da responsabilidade da redacção

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