A estratégia de construir um projecto abrangente, capaz de ir além das convicções político-partidárias, já tinha sido assumida por Crespo de Carvalho e, no último domingo, o candidato independente apoiado pelo PSD mostrou-se convicto de que será possível concretizá-la. «De vários quadrantes nos têm chegado sinais de encorajamento e adesão», afirmou na inauguração da sede campanha, antes de anunciar como seu mandatário o advogado António Ferreira, que liderou uma lista da CDU nas autárquicas de 1987. Outro trunfo é o apoio do último candidato do CDS à Câmara da Guarda, Joaquim Canotilho.
«Os guardenses merecem um esforço colectivo», afirmou Crespo de Carvalho perante dezenas de pessoas que estiveram na abertura do espaço “A Guarda Quer”, situada na Rua Maria das Dores Sampaio, nas proximidades da Igreja da Misericórdia. «Impõe-se alargar a base social e política de apoio e irei fazê-lo», assumiu, sublinhando que a sua candidatura «não se esgota no PSD» e que procura, por isso, «apoios à esquerda e à direita». Daí a escolha de António Ferreira para mandatário, que classificou de «arauto da liberdade» e «conhecido advogado» na área do trabalho. «Para quem considere que esta é uma mudança radical, eu pergunto quais foram as medidas de esquerda que o PS da Guarda implementou nos últimos 20 anos?», declarou aos jornalistas António Ferreira, também colunista de O INTERIOR.
Antes, o advogado proferiu um discurso muito crítico da actual governação do socialista Joaquim Valente. Centrando grande parte da sua intervenção no que disse ser a «dívida monstruosa» da Câmara, António Ferreira considerou que o actual executivo «vai semeando o concelho de bibelôs dispendiosos que vai inaugurando à medida que as eleições se aproximam». A «moda das rotundas e das fontes luminosas» ou a intenção de construir um pavilhão multiusos junto às piscinas municipais foram alguns dos «bibelôs» enumerados, num discurso em que lamentou o encerramento de fábricas, o envelhecimento da população e a desertificação. O mandatário foi ainda mais crítico quando se referiu às empresas municipais: «[Joaquim Valente] Precisa de ajudar quem o ajudou na última campanha. Como é complicado abrir concursos públicos, cria uma empresa municipal e depois outra», declarou.
Também Crespo de Carvalho focou a questão do endividamento no seu discurso. «Acumular uma dívida de 58 milhões é deixar a cada guardense 1.250 euros de dívida para pagar com os seus impostos nos próximos 10 anos», criticou. O candidato destacou ainda a necessidade de se criar uma «parceria estratégica» com os empresários e imprimir às «cidades e aldeias uma só velocidade», além de implementar uma «concertação estratégica» entre instituições, na educação e no social, tendo referido como «prioridade» a revisão do PDM. E atirou, em mais uma referência a Joaquim Valente: «Quem não cumpre promessas na esperança de novo mandato não deve ter segunda oportunidade», afirmou. Crespo de Carvalho remeteu para mais tarde a divulgação da equipa que o vai acompanhar, bem como a lista candidata à Assembleia Municipal. Isto é, para depois das duas convenções autárquicas agendadas pelo PSD: uma concelhia, a acontecer no sábado, para discutir um programa inter-aldeias; e outra distrital, agendada para dia 25, no Sabugal, que deverá contar com a presença de Manuela Ferreira Leite.
A ideia é discutir primeiro o que será o programa eleitoral e depois apresentar uma equipa que esteja em “sintonia” com o seu conteúdo. Quanto à direcção de campanha, já foram revelados os nomes. Trata-se de uma estrutura tripartida com Jorge Libânio, técnico de radiologia, candidato derrotado à concelhia do PSD da Guarda nas últimas eleições; Helena Ravasco, professora; e Daniel Lucas, dirigente da JSD da Guarda. Já Cátia Madeira, também da JSD, é a mandatária da juventude.
Canotilho não vai «ostracizar CDS»
Ao recordar que deixou o CDS-PP em 2007, na sequência da derrota de Ribeiro e Castro e da eleição de Paulo Portas para líder do partido, Joaquim Canotilho afirmou aos jornalistas que não vai «ostracizar a candidatura» dos centristas nas próximas autárquicas. «Nada tenho a ver com o CDS e com a sua candidatura», disse o também ex-líder da concelhia do CDS da Guarda, referindo que decidiu aceitar o convite de Crespo de Carvalho para «colaborar na sua comissão política [de candidatura]» com «ideias e opiniões».
Convites sem símbolo do PSD
Os convites para a inauguração da sede de campanha de Crespo de Carvalho não tinham qualquer referência ao PSD, o que gerou alguns comentários nos bastidores do meio político. «Uma falha burocrática», admitiu Crespo de Carvalho a O INTERIOR. O candidato explicou ter ficado à espera que «nos enviassem o emblema» e que, perante a aproximação da data, os convites acabaram por seguir sem qualquer logótipo do PSD. A falha foi corrigida a tempo de todos os cartazes e “flyers” presentes no espaço “A Guarda Quer” exibirem o emblema social-democrata.
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