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“Cowspiração”

De vez em quando, há momentos que nos despertam de um longo torpor no que diz respeito a determinadas conceções de sociedade, política, geopolítica, economia, ecologia, etc. O documentário “Cowspiracy: the sustainability secret”, da A.U.M Films e First Spark Media, realizado e apresentado por Kip Andersen, foi um desses momentos.

O documentário mostra um cidadão consciente da «verdade inconveniente» de Al Gore, de que é o dióxido de carbono o grande responsável pelo aquecimento da Terra. Nele, Gore, «demonstra» que a Terra está em risco, prognosticando tempestades colossais, incêndios devastadores, secas de grande escala, degelo das calotas polares, acidificação dos oceanos e países a ficar submersos. Tudo devido às exigências do ser humano e da sua dependência do petróleo e carvão. Kip faz de tudo, no seu quotidiano, para que a sua pegada ecológica seja reduzida ao máximo. No entanto, fica intrigado com uma partilha, no seu email, de um relatório da ONU afirmando que as vacas produzem mais gases de efeito-de- estufa do que todo o sector de transportes. Isto significa que criar gado gera mais gases de efeito de estufa do que todos os carros, camiões, comboios, barcos e aviões juntos – 13% comparado com 18% gerados pela produção animal. O gás metano, produzido, a partir do processo digestivo, pelo gado, é 23 vezes mais destrutivo do que o dióxido de carbono.

Na minha prática profissional sempre fiz questão de desmistificar, com os meus alunos, a ideia de que o dióxido de carbono é o “bicho papão” que está a aquecer, anormalmente, a Terra. Sempre afirmei que esta mistificação não passa de uma forma de subjugação dos países em vias de desenvolvimento às potências económicas.

Mas o que desconhecia e que me chocou neste trabalho foi, entre outras coisas, perceber o poder que o “lobby” da pecuária tem nos EUA e a ignorância propositada que as principais organizações ecologistas, como a Greenpeace, têm sobre este assunto, visto que são, em parte, patrocinadas por este poder. Poucos se atrevem a falar nisto. E quem falar abertamente corre o risco de acabar preso, pois, legislação “apropriada”, foi aprovada para silenciar e amedrontar quem “perseguir” os “cowboys”.

Assusta perceber que a criação de gado está a ocupar gigantescas áreas agrícolas para a produção de soja ou milho para a sua alimentação, em vez de alimentar diretamente humanos; que quantidades colossais de floresta amazónica são destruídas anualmente para criação de pasto ou que quantidades astronómicas de água são desviadas para a pecuária. Para se ter a ideia das perdas façamos este exercício básico: as vacas alimentam-se de plantas e nós alimentamo-nos das vacas, mas apenas 10% da matéria digerida pelas vacas passa para nós. Significa que 90% de toda a água e alimento são utilizados por estas ou simplesmente perdidos sob a forma de calor, urina, fezes e partes não aproveitáveis pelo ser humano, como ossos e outros tecidos. Para nos situarmos no desperdício basta percebermos que para a obtenção de um hambúrguer de 400 g tiveram que ser consumidos 2.500 litros de água ou que para um litro de leite foram gastos 1.000 de água! E quem fala em vacas, fala no resto dos animais para consumo humano. O peixe também não dá. A pesca de arrasto desperdiça anualmente milhões de toneladas de espécies, não elegíveis, que são devolvidas, mortas, ao oceano antes dos arrastões chegarem às lotas.

São estes os crimes contra a natureza que nós, cobarde e autisticamente, queremos ignorar. Nenhum de nós se pode afirmar ecologista ou ambientalmente responsável se insistir em continuar a consumir animais e derivados de uma forma insustentável, ignorando a matança e o impacte ambiental subjacentes. Na (quase) impossibilidade de uma mudança radical de hábitos alimentares, tornando-nos “vegan”, cabe-nos, no mínimo, uma redução muito significativa no consumo destes produtos. Podemos começar pelo leite de vaca, substância “desenhada” para fazer um bezerro de 30 kg numa vaca de 180 kg o mais rapidamente possível e que é causa provada de vários tipos de cancro.

A visita à página www.cowspiracy.com é um bom começo.

Por: José Carlos Lopes

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