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Cooperativas criam sociedade anónima

Empresa com capital social de 1,1 milhões de euros depende dos sócios das adegas da Covilhã, Figueira de Castelo Rodrigo e Vila Franca das Naves

O diagnóstico já não é novo, mas a solução é ambiciosa para as adegas da Covilhã, Figueira de Castelo Rodrigo e Vila Franca das Naves saírem da crise. Se os sócios autorizarem, estas três cooperativas da região vitivinícola das Beiras vão criar uma sociedade anónima para gerir, de forma empresarial e profissional, as áreas comercial, financeira e de operações. Um passo que pode revolucionar um sector com destino traçado a médio prazo. «A situação é calamitosa e sem solução se persistirmos nesta organização», recordou António Bidarra Andrade em Figueira de Castelo Rodrigo, na passada quinta-feira, na apresentação do plano de negócios da nova empresa.

O presidente da adega da Covilhã e da União das Adegas Cooperativas da Beira Interior (UNACOBI) espera que o projecto venha dar «uma sacudidela» na actividade e permita ganhar escala, competitividade e produtividade. «Atributos que nos faltam para singrar no mercado nacional e internacional», considerou, adiantando que a central de compras e a promoção conjunta dos vinhos das cinco adegas que compõem a UNACOBI foi uma «solução curta para resolver os nossos problemas». Por isso, as direcções de Figueira de Castelo Rodrigo, Vila Franca das Naves e Covilhã, que na última campanha produziram cerca de 24 milhões de litros de vinho, assumiram que a solução para sobreviverem estará nessa empresa e já se comprometeram a associar-se para serem competitivas. O plano de negócios, elaborado por uma empresa do grupo Crédito Agrícola, foi apresentado a produtores, autarcas e empresários e propõe um capital social de 1,1 milhões de euros, repartido em partes iguais pelas fundadoras (51 por cento) e investidores privados (49 por cento). A missão desta nova empresa, que terá uma Assembleia Geral, um Conselho de Supervisão e uma Direcção Executiva, é «inovar e ser competitiva, desenvolvendo os vinhos necessários para responder à evolução do mercado», aponta o estudo.

«Mantém-se a relação com os associados, mas profissionalizam-se as componentes mais sujeitas ao mercado para serem mais competitivas», lê-se ainda, pois o objectivo é aumentar as vendas no engarrafado, onde há mais valor acrescentado, e baixar no granel, cujo preço e escoamento as adegas não controlam. Nesse sentido, os sócios são desafiados a produzir com mais qualidade e serão remunerados a tempo e horas pela matéria-prima entregue. «Este modelo pode libertar quatro milhões de euros de excedentes de tesouraria, o que permitirá pagar 48 por cento da dívida actual destas cooperativas e antecipar pagamentos aos associados em 10 meses», garante o plano de negócios. Pela sua parte, as adegas terão que fazer já um esforço de racionalização de forma «a reduzir em 215 mil euros os custos de estrutura até à próxima campanha». É que o dia 1 de Junho é a «data limite» para esta sociedade comercial estar a funcionar. O exemplo a seguir é o do sector do leite, cujas principais cooperativas se associaram com êxito, referiu o secretário de Estado da Agricultura. Luís Vieira afirmou que o «modelo das adegas já não funciona» e que é preciso agora acrescentar produtividade num sector responsável por 52 por cento dos sete milhões de hectolitros produzidos anualmente em Portugal. «O problema é que 90 por cento das cooperativas estão numa situação financeira extremamente debilitada», acrescentou, defendendo que a gestão profissionalizada e centralizada é a «única saída» para a crise.

Vendas baixaram 10 por cento

O documento parte de um diagnóstico nada optimista. As vendas das três cooperativas decresceram 10 por cento entre 2003 e 2005 e todas têm em comum o «forte peso» do vinho a granel de mesa na sua produção. Mas também a baixa penetração no mercado nacional e internacional, para além do «fraco controlo» dos preços devido à dificuldade em posicionar marcas nas categorias de preços mais elevados.

Para contrariar este cenário, a CA Consult defende a racionalização das marcas e a melhoria da qualidade do vinho: «Isoladas, a expectativa de resultados correntes é negativa. Em conjunto, será positiva», defendem os consultores, que aconselham ainda a participação no capital social de parceiros comerciais em mercados estratégicos e de investidores institucionais. «Temos que ter uma posição ofensiva no mercado», acrescentou o secretário de Estado da Agricultura, afirmando que 80 por cento do vinho que vai para a destilação é proveniente das cooperativas. Luís Vieira disse ainda que 36 por cento das vinhas nas Beiras têm mais de 70 anos – «quando só são rentáveis até aos 30 anos» –, pelo que os produtores devem apostar na sua reestruturação e aproveitar os últimos apoios. «O programa VITIS, a que se podem candidatar a partir de 1 de Abril, concede 75 por cento a fundo perdido, mas só nos próximos dois anos», alertou. Quanto à ausência das adegas de Pinhel e Fundão neste projecto, o presidente da UNACOBI revelou que a primeira «nem quis pensar em divulgá-lo aos sócios», enquanto a segunda só estaria disponível para participar numa iniciativa para a comercialização exterior. «Se os sócios autorizarem, nós vamos avançar porque não podemos continuar como estamos», garantiu Bidarra Andrade.

Luis Martins

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