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Contributo para a escolha de um candidato

Sinais do Tempo

Num mundo virtual, que não o real, podemos ter um modelo de autarca omnipresente e que se impõe muito para além da sua equipa, assumindo em nome individual todas as conquistas e ou feitos heroicos, até aqui nunca alcançados. O modelo referido assume que cada rotunda requalificada vai muito para além da simples intervenção no trânsito rodoviário, transformando-as em obra de arte, mesmo quando são de gosto duvidoso e custam os olhos da cara.

Um autarca de sucesso distribui alcatrão à esquerda e à direita e incrementa a perigosidade de estradas sinuosas e estreitas só porque é necessário fingir que foram cumpridas as promessas do mundo real e eternamente adiadas. As feiras ou eventos similares tornam-se indispensáveis e são fundamentais numa estratégia virtual. A população adora, aplaude, rejubila, a alegria torna-se contagiante de tal forma que deixa os opositores sem palavras. Gostamos de gente assim, que faz obra, cumprindo a velha máxima: mais tijolos e menos miolos!

Candidato que é candidato ou autarca que é autarca adora auditórios, seja qual for o palco, de preferência com público atento, não importando a idade. Na realidade neste mundo que não é real e antes de um espetáculo infantil, podemos sempre perguntar às crianças se preferem o autarca que acabara de discursar ou o Noddy ou o Ruca (neste comparativo evito os de maior estatura, como o Batman ou o Homem Aranha, ou os mais antigos como o Topo Gigio) e as crianças em coro, quiçá apanhadas de surpresa, respondem em uníssono e em euforia o nome do candidato. Neste mundo virtual tudo é possível ou talvez não. Partindo da máxima em que as crianças não mentem, podemos considerar quatro hipóteses; ou estavam distraídas ou foram submissas ou foram simpáticas ou entenderam o autarca como mais um herói da BD.

Este modelo de reação à intervenção de um político no mundo virtual poderá ser transposto no mundo real para os eleitores nas próximas eleições, ou seja distraídos, submissos, simpáticos ou julgarem-se num mundo de fantasia?

Mas no mundo real exige-se ao candidato a autarca a capacidade de analisar o passado e de projetar o futuro, de estabelecer estratégias, de se assumir como o arquiteto de uma vida melhor e inovadora, que consiga inverter a sangria de gente em idade produtiva e reprodutiva.

Se as feiras, as festas, as rotundas e o alcatrão são importantes para dar notoriedade ao autarca, de nada servem ao candidato se continua a perder massa crítica e se não tem ambição ou capacidade de inovar. Basta olhar para outras paragens onde os museus se elevam a nacionais ou a preocupação com a educação faz surgir os espaços Ciência Viva, ou onde os empresários são atraídos a instalar as suas “startups”, para perceber que muito está ainda por fazer.

Odorico Paraguacu, o autarca modelo da novela de Dias Gomes, imortalizado por Paulo Gracindo na novela da Globo nos anos 70, é quiçá de inspiração obrigatória para que o candidato se sinta à vontade para o citar em qualquer momento: «É com a alma lavada e enxaguada que lhe recebo nesta humilde cidade».

Por: João Santiago Correia

Comentários dos nossos leitores
antonio vasco s da silva vascosil@live.com.pt
Comentário:
Plenamente de acordo. A máquina já está a caminho. É melhor fugir da frente. Estes autarcas não querem prestar serviço público para bem do povo, mas servem-se da política para subirem na vida.
 

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