Há alguns anos, uma colunista deste jornal (Joana Maria Massena Vedes) referiu na sua crónica que escrevia «num jornal neoliberal», aludindo a O INTERIOR. Supostamente, ela, como outras pessoas, achava que um jornal que, na Guarda, escrevesse de forma crítica e fizesse uma apreciação negativa da governação socialista na Câmara era «neoliberal». Pior, nos anos de governo de José Sócrates, fomos particularmente acossados por aqueles que não apreciavam o nosso pluralismo e apurado sentido crítico – Lisboa e o país eram dominados pelo “menino de ouro do PS” e a Guarda vivia rendida ao “amigo” (Joaquim Valente). Éramos «oposição», porque aqui se escrevia (e escreve) de forma plural, equidistante dos interesses e dos partidos, opinando sem preconceitos ideológicos e sem nos dobrarmos perante os pequenos interesses de casta.
E fomos contrapoder! Porque a Imprensa é por definição, por princípio, contrapoder! Porque as palavras não são inócuas e um jornal tem de ser fiel ao seu critério editorial e aos seus leitores: informar, e informar com seriedade. Como diria Mário Mesquita (“O Quarto Equívoco”), outros preferem ser apelidados de “quarto poder” na sua inércia em relação ao sistema, mas n’O INTERIOR, a ideia de “quarto poder” foi sempre considerada como uma hipérbole grotesca, até porque o poder dos media é condicionado e controlado por todos os outros poderes, e nunca tergiversámos na nossa orientação e desiderato – ainda que tenhamos cometido erros.
Também por isso, na Guarda, fomos oposição! Repetimos, ad nauseam, que o executivo liderado por Joaquim Valente era o mais incompetente da história recente do concelho; identificámos situações de inércia e denunciámos os atropelos ao interesse público em nome de pequenos interesses… Porque, n’O INTERIOR, fazer “oposição” era ser contrapoder, defender as pessoas, lutar pela Guarda e contrariar um poder bolorento. Chegados aqui… e, como já antes escrevi, quando alguns esperavam que fossemos muleta da nova governação social-democrata, sem tergiversar, mantivemos a nossa equidistância e pluralidade. E continuaremos, sem tibiezas ou encolhas, a ser contrapoder… em defesa da região e do seu futuro. Enquanto outros, a quem nunca ouvimos um comentário ou uma frase crítica ao anterior executivo, que tantas vezes andavam de “mão-estendida” pelos corredores do anterior poder e agora se governam com o novo ou são lacaios do Dr. Amaro, n’O INTERIOR assumimos que estamos onde sempre estivemos: a fazer jornalismo e a contribuir para uma sociedade mais desenvolvida. Antes, com a Câmara de Joaquim Valente, fomos proscritos e prejudicados (a publicidade era enviada para os outros órgãos de comunicação social e raramente para O INTERIOR); hoje continuamos a ser proscritos e prejudicados, os convites, as novidades ou a publicidade continuam a ser para os outros, os mesmos que sempre conviveram bem com a podridão do poder – antes, como agora.
Nos próximos meses, a campanha eleitoral sairá à rua, e nós iremos honrar o nosso compromisso com os leitores informando com rigor e isenção, como sempre.
PS: Na semana passada aplaudimos a organização do Simpósio Internacional de Arte Contemporânea (SIAC2) na pessoa do seu promotor, o diretor do Museu da Guarda, Mendes Rosa. Um aplauso que tem muitos “mas”… Na verdade, aplaudimos a iniciativa porque é positivo que se dinamize a vida cultural da urbe, pela aposta no escultor guardense Pedro Figueiredo (o único escultor com dimensão e qualidade presente no Simpósio) e pela homenagem a João Cutileiro com a exposição de desenhos do “mestre” (que é uma parte irrelevante da obra do grande escultor). A arte contemporânea esteve ausente, Cutileiro também (supostamente por estar doente) e o reiteradamente anunciado ministro da Cultura também não veio (sem qualquer justificação por parte da organização, talvez porque do convidar ao confirmar a presença vá uma grande distância, a distância de interpretar a irrelevância do evento).
Luis Baptista-Martins