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Continuar o país

Hoje já sabemos que a geração mais bem preparada do país viverá pior do que a geração dos seus pais e, talvez mesmo, do que a dos seus avós. Os indicadores são inequívocos. Os jovens que estão nos 20’s e nos 30’s – a célebre geração Z, nascida e criada com a realidade da internet – não alcançam oportunidades, não auferem rendimentos, não alimentam expectativas, não organizam escolhas de vida como as gerações que os precederam. De algum modo, é como se as promessas de desenvolvimento, primeiro com a democracia, depois com a Europa, se esvanecessem, para os jovens nascidos já em democracia e já nesta Europa, na dura realidade da vida. Na sua última edição, o semanário “Expresso” divulgou dados inéditos do INE (Instituto Nacional de Estatística) que confirmam uma realidade que ia entrando pelos olhos adentro no quotidiano social e, quase sempre, também no quotidiano familiar. De acordo com esses dados, no período que vai do ano de 1989 até ao ano de 2009, os rendimentos dos portugueses aumentaram. Mas, os jovens com menos de 30 anos viram, nesses 20 anos, os seus rendimentos aumentar menos 18% do que a média. E aqueles menos jovens que estão entre os 30 e os 44 anos – lembrar-se-ão certamente da geração rasca que afinal estava à rasca – também viram os seus rendimentos aumentar menos 15% do que a média. Apenas dobraram o Bojador os portugueses acima dos 45 anos, que até aos 67 viram os seus rendimentos subir 13% acima de média e a partir dessa idade viram os seus rendimentos subir 27% acima da média. A desigualdade geracional tão agravada desta maneira não terá beneficiado em nada com o período severo de austeridade. Pelo contrário, entre 2009 e 2013 os portugueses, em geral, perderam rendimento, mas os mais novos perderam bastante mais do que os menos novos.

É certo que as dificuldades incrementaram, como dantes não sucedia, uma solidariedade intergeracional entre pais e filhos, avós e netos, que consegue dar resposta à desigualdade crescente com mecanismos de redistribuição dentro das famílias. Mas, não basta. Especialmente em Portugal, há uma geração que está a falhar, além de todos os outros legítimos anseios, o objetivo mais básico que dela se esperaria, a começar por ela mesma – a estabilidade e a segurança suficientes para escolher, com responsabilidade, ter filhos e assim renovar-se geracionalmente o país, sem o que não nos continuaremos tantos enquanto comunidade no tempo. A taxa de fecundidade atingiu em Portugal dados assustadoramente baixos. Em 2011 já era a segunda mais baixa do mundo, só superada pela da Bósnia-Herzegovina. Em 2012 era a mais baixa da UE, em contraste com a Irlanda, a Suécia, o Reino Unido e França. Em 2016, como uma realidade inelutável, nada de novo se assinala. Mas realmente nada pode ser feito? Não é possível distribuir rendimentos de forma geracionalmente mais justa considerando, por exemplo, um fator etário nas bonificações em sede de IRS? Não é possível uma corajosa política de benefícios fiscais, por exemplo em sede de IMI, ou deduções de despesas com rendas ou prestações ao banco relacionadas com a aquisição de habitação para famílias? E por que não também uma política ativa de fixação de jovens no interior do país, onde o custo de vida médio é significativamente menor do que nos grandes centros populacionais do litoral?

Por: André Barata

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