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Construtores de Antas

Nos Cantos do Património

O número de antas ou dólmens no território nacional é relativamente elevada, chamando a atenção, desde cedo, de diversos investigadores, que tentavam dar resposta a questões como diferenças construtivas, cronologias, tipologia de espólio…

Existe na área da Guarda um exemplar, a Anta de Pêra do Moço, datada da transição do IV para o III milénio. Actualmente apresenta cinco esteios e a laje de cobertura.

Todavia, quem terá construído este exemplar? Continuamos a não saber quais as comunidades humanas que neste território investiram na construção de um monumento com tais dimensões, uma vez que os sítios de habitat ainda não foram detectados.

Em alguns locais da Península Ibérica para além da escavação de antas foram também intervencionados os povoados associados, permitindo um conhecimento acrescido sobre a vida quotidiana destas comunidades que habitaram o mesmo território que nós, à cerca de 5 000 anos atrás.

Para além das dificuldades relacionadas com a cronologia das antas, uma vez que estes monumentos foram utilizados durante um longo período tempo, acresce ainda os elevados níveis de destruição em que geralmente se encontram, tendo sido as terras do interior extraídas ao longo dos tempos.

De facto, entre o IV e o III milénio observaram-se diversas alterações nas comunidades humanas, atestadas no registo arqueológico, relacionadas com a Revolução dos Produtos Secundários, nomeadamente a generalização da agricultura, a farinação e a tecelagem.

Entre os utensílios encontrados em povoados deste período destacamos a utilização de furadores, pontas de seta (para a caça), machados e enxós (para o derrube de árvores), colheres, pratos e taças em cerâmica, bem como diversos artefactos relacionados com o horizonte mágico-simbólico.

Nas proximidades da Anta de Pêra do Moço não se conhecem povoados associados, contudo, a Sul, no povoado Pedra Aguda, foram detectados materiais do Calcolítico. Esta tipologia de povoado, possivelmente fortificado, insere-se nas tipologias conhecidas para a Península Ibérica. António Valera identificou diversos habitats deste período, com especial destaque para a bacia superior do rio Mondego, na área de Fornos de Algodres, com semelhantes características de implantação.

Interessa realçar que a existência da Anta de Pêra do Moço neste território poderá marcar um novo conceito na comunidade que a construiu, nomeadamente a ocupação de áreas de vale. É possível que a economia destas comunidades prenda-se sobretudo com a pastorícia e a caça (atestada pelas pontas de seta encontradas em monumentos com a mesma tipologia), complementada pela farinação (atestada pelas mós manuais) e uma agricultura muito insipiente, apesar de serem conhecidas gravuras com a representação de arados, datados do Neolítico e Calcolítico.

Por: Vítor Pereira

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