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Condenados a piores dias

Editorial

A torrente de notícias e comentários sobre o estado do país, o Orçamento de Estado, a crise europeia e as consequências das políticas adoptadas não nos deixam pensar em mais nada: vivemos em pânico. Estigmatizados pelas dificuldades, e com o anátema de que o amanhã vai ser ainda pior, os portugueses convivem com um dos piores momentos de que há memória. De fato, este Governo e este primeiro-ministro, até agora, não fizeram mais do que apertar o torniquete e, sem outra bandeira que não seja a do controlo do défice, vão atemorizando os cidadãos enquanto matam a economia. Por isso, por muito que nos custe, as palavras de Miguel Sousa Tavares matraquilham com força na nossa cabeça: «Morte certa, ressurreição duvidosa».

Para onde vamos? Todos sabemos que austeridade conduz a mais austeridade. Austeridade que irá fomentar a evasão fiscal; que irá determinar maior fuga de capitais; que vai afugentar investidores; que irá impor juros mais altos e mensalidades impagáveis; que irá penhorar casas e carros e salários; e que a maioria não poderá suportar. E em Portugal há mais de dois milhões de pobres… e mais de 700 mil desempregados… Quando se espera um Governo jovem e dinâmico, com energia para enfrentar os problemas e inteligência para encontrar soluções, temos uma governação de contabilista rigoroso. Pagar as dívidas e baixar o défice apenas espremendo o povo com impostos e mais impostos não tem nada de meritório, mérito, mérito seria conseguir fazer frente às dificuldades criando riqueza, dinamizando a economia, promovendo o trabalho, apoiando as empresas e a exportação, criando emprego, dando coesão ao território, em vez de criar mais injustiça social ou aumentar as assimetrias e o fosso entre rico e pobres.

2. As portagens vão avançar. Estranhamente, nos últimos dias reapareceram movimentos contra a sua introdução. Recebi mesmo alguns emails de pessoas a incentivar-me para mobilizar cortes de estradas e coisas do género. Ora, o tempo certo do protesto já passou. Ficou lá trás, quando consegui que mais de 3.500 pessoas subscrevessem uma petição que enviei à Assembleia da República. E quando lá fui apresentar o meu protesto, pessoal e em nome do superior interesse da minha região. Por esses dias, as rádios da Guarda deram voz e os jornais da região deram páginas à comissão de utentes liderada por Francisco Almeida, de Viseu, que, e bem, reivindicaram a não introdução de portagens. Curiosamente, nenhum órgão de comunicação social, para lá de O INTERIOR, fez referência ao fato de um cidadão da Guarda, eu, sozinho, sem nenhuma organização por trás, ter tido rigorosamente o mesmo tempo (ou quiçá até mais) na mesma comissão parlamentar para contestar as portagens e, em última análise, ao perceber que a decisão de introdução já estava tomada, defender um valor justo, o mais baixo possível, para as autoestradas do interior. Tenho a convicção que prestei um bom serviço à minha região apresentando os melhores argumentos de contestação (as rádios e os jornais da cidade prestaram um péssimo serviço, como é habitual). Infelizmente não tive sucesso, pois os meus argumentos não colheram junto da maioria o apoio necessário para evitar mais este ataque ao futuro do interior.

4. No meio da pasmaceira em que vivemos, na Guarda, vêm da Covilhã as boas notícias, que nos dão algum alento perante toda a comiseração que nos chega. Depois das comemorações dos dez anos da Faculdade de Ciências da Saúde, que como aqui salientámos na semana passada, marca a mudança de paradigma da região, a confirmação do projeto do Data Center da PT na Covilhã vem estimular-nos um pouco. Efetivamente, tudo o indica, mesmo perante o cenário negativo em que vivemos, o investimento vai avançar, o que será de extraordinária relevância para a Covilhã e para toda a região.

Luis Baptista-Martins

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