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Concelhos albicastrenses desenvolvem acções de solidariedade

Abertura de contas bancárias é o recurso imediato de apoio aos munícipes

Crescem por todo o território nacional as “ondas de solidariedade” para com as vítimas dos recentes e devastadores incêndios que, nas últimas semanas, consumiram milhares de hectares de floresta, habitações, animais e empresas. Comunicação social, autarquias, organismos públicos e privados, associações e demais entidades, estão a unir esforços para minimizar os efeitos nefastos que os fogos provocaram junto das populações. A par do distrito da Guarda, Castelo Branco foi um dos mais afectados pelas chamas, onde a Sertã, Oleiros, Proença-a-Nova, Fundão, Vila Velha de Ródão, Castelo Branco e Vila de Rei viveram momentos de dor, tristeza e agonia. Depois da derrota, há agora que buscar forças e apoios para começar de novo. A recolha de alimentos, roupa e a abertura de contas bancárias são algumas das iniciativas que os concelhos mais afectados do distrito albicastrense estão a desenvolver.

”Fundão solidário” já arrancou com cinco mil euros

O Fundão já começou a encetar esforços para ajudar a população afectada. “Fundão Solidário” é o mote que suporta a conta bancária que a Câmara abriu na Caixa de Crédito Agrícola Mútuo, que foi, de resto, a primeira depositária na conta de solidariedade com o montante de cinco mil euros. Trata-se de uma «conta que se destina a todas as vítimas dos incêndios», destaca Manuel Frexes, se bem que a prioridade sejam as pessoas do concelho. É que «todo o dinheiro é pouco» para colmatar os prejuízos causados pelos incêndios na localidade. «Não contando com prejuízos agrícolas e árvores de fruto, estimamos perdas em cerca de 20 milhões de euros», sustenta o autarca. Uma estimativa a que chega a Câmara do Fundão através de quatro mil hectares de área ardida onde «um bom hectare de pinhal vale entre 2.000 e 2.500 contos, e um menos bom 600 contos», garante Frexes, a que acrescem ainda as várias máquinas agrícolas destruídas, infra-estruturas, apicultura e outros bens.

Enquanto se procede ao levantamento de todas as situações para apresentar ao Governo e se aguarda por ajudas financeiras do Estado, a Câmara do Fundão já desencadeou algumas medidas para resolver as necessidades mais urgentes. É o caso dos animais. Com as áreas de pastagem ardidas e a limitação financeira dos proprietários para sustentarem o seu gado, a autarquia já sensibilizou as Juntas de Freguesia para comprarem as rações «para quem não tiver dinheiro». Os contributos para a campanha “Fundão Solidário” são benvindos para o Número de Identificação Bancária (NIB) 0045. 4020. 40174777106.16 ou pelo número de conta 401 74 77 71 06, da CCAM.

Oleiros abre conta de solidariedade

Também a Câmara de Oleiros abriu uma conta na Caixa Geral de Depósitos (CGD) com o NIB 00 350 55 200 00 86 11 33 014 para apoiar as vítimas dos incêndios.

Além de floresta, o concelho viu as chamas “engolir” muitas habitações, arrecadações, empresas, viaturas e animais.

Apesar de ainda serem «valores muito superficiais», tudo indica que terão ardido «mais de 30 mil hectares de floresta em Oleiros», adianta Luís Mendes, engenheiro florestal da Câmara. Estima-se ainda que tenham ardido «cerca de 67 casas de habitação com recheio, entre 500 a 1.000 casas de arrecadação, mais de 470 animais, 18 tractores agrícolas, 24 automóveis, uma carpintaria, duas oficinas de automóveis e uma indústria de madeiras», sublinha. No entanto, acredita que o número de perdas seja muito mais alto, visto tratar-se de «números muito superficiais» resultantes de uma primeira análise.

Adoptando a mesma postura quer a autarquia fundanense, Oleiros vai «prestando uma primeira ajuda às necessidades mais básicas da população, enquanto não chega ajuda do Estado», explica Luís Mendes. Daí que a prioridade por enquanto seja dar resposta ao nível do alojamento, alimentação e comida para os animais.

«Medidas de fundo» em Proença-a-Nova só depois da reunião com MAI

Menos afectada que Oleiros, Proença-a-Nova espera pelas decisões da reunião com o ministro da Administração Interna [que teve lugar na última terça-feira à tarde] para desenvolver «medidas de fundo». Quem o diz é a vice-presidente da autarquia, Filomena Lourenço, visto que o município ainda se encontra a analisar toda a situação para depois «tomar decisões e ponderar medidas».

Ainda a «contabilizar os estragos nas 39 localidades atingidas», aponta-se uma estimativa de 3,5 milhões de euros de prejuízo em máquinas e instrumentos agrícolas, duas casas queimadas e 19 arrecadações, sendo que ainda falta apurar o número de animais queimados, a área ardida (que rondará entre 12 a 15 hectares) e os «muito palheiros dispersos no pinhal». No entanto, Filomena Lourenço garante que «o imediato está solucionado» graças aos diversos donativos de roupa e alimentação que têm chegado ao concelho. Os desalojados encontram-se em casa de familiares e, em breve, as duas casas serão recuperadas, pois uma empresa de construção civil do concelho já se disponibilizou para fornecer os materiais de construção.

Sertã teme agravamento da situação a longo prazo

Na Sertã, onde se registou o último grande incêndio do distrito albicastrense, a situação gerou danos bastante avultados para um concelho pequeno e tudo indica «que não vai ficar por aqui».

Das 14 freguesias do concelho, 13 foram atingidas pelas labaredas, devastando «casas, estábulos, palheiros, viaturas, animais, alfaias e instrumentos agrícolas», refere Reis Moura, chefe de gabinete do presidente da Câmara. Danos que ascendem a «15 milhões de euros», diz, se bem que este seja um valor «muito por baixo», pois «não está incluída a área ardida». No concelho, terão sido consumidos qualquer coisa como 14 mil hectares de floresta, o que corresponde a 55 por cento de todo o pinhal do concelho. A autarquia está ainda «a fazer o levantamento» dos estragos para «pedir ajuda» ao Governo, pois teme que a situação se agrave social e economicamente no concelho. «Muitos dos problemas não são agora evidentes, mas vão surgir a jusante disto tudo», esclarece Reis Moura. É que os incêndios que devastaram o concelho, destruíram quatro serrações, duas casas de habitação, duas fábricas de blocos e 20 a 25 casas de férias.

A situação das duas famílias desalojadas está «controlada», pois as pessoas «foram para casa das famílias», explica, aguardando agora que se proceda ao «levantamento do material necessário para a reconstrução das casas». O mesmo não se pode dizer das serrações e de uma das fábricas de blocos ardidas. Vinte serralheiros foram «directamente» para o desemprego, se bem que o número de desempregados pode aqui aumentar. «Numa serração, há muitos trabalhadores indirectos, como no corte das árvores e na limpeza», aponta Reis Moura. Também os cinco trabalhadores de uma empresa de blocos estão no desemprego. Melhor sorte tiveram os trabalhadores da outra empresa do mesmo ramo. Por se tratar de uma empresa municipal, a autarquia vai «dar outra tarefa aos trabalhadores até à reconstrução», sustenta.

Para já, a Câmara abriu uma conta de solidariedade na Caixa Geral de Depósitos com o número de conta 076 80 22 000 530 para apoiar as vítimas dos incêndios, mas também tem recebido vários donativos de roupa e alimentação para ajudar as pessoas. Géneros que tem enviado para o Governo Civil, para que a Segurança Social distribua mais tarde pelos concelhos que têm mais dificuldades.

Covilhã ajuda concelhos prejudicados

O concelho covilhanense não foi vítima do flagelo que assolou os concelhos vizinhos. No entanto, já se manifestou disponível para ajudar todas as pessoas que necessitem de apoio, colocando ao dispor máquinas e outro tipo de cooperação, como o fornecimento de água potável. Segundo o gabinete de apoio ao presidente da autarquia, apenas o concelho de Mação, no distrito de Santarém, solicitou água potável, que foi fornecida através de carrinhas cisterna.

“O Interior” tentou ainda apurar junto das câmaras de Castelo Branco, Vila de Rei e Vila Velha de Ródão a existência de iniciativas locais de solidariedade, mas até ao fecho desta edição tal não foi possível.

Liliana Correia

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