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Concelho de Seia sem água durante dois dias

A situação foi normalizada no final da tarde da última terça-feira, mas pode repetir-se caso hajam mais trovoadas irregulares e chuvadas fortes

Após dois dias sem brotar qualquer pinga, as torneiras da rede pública do concelho de Seia voltaram à normalidade no final da tarde da última terça-feira. Dois dias a seco foram a consequência da trovoada, seguida de uma forte chuvada, que assolou a região na noite de sexta-feira para sábado, tendo a autarquia sido obrigada a cortar o abastecimento de água no concelho. A situação foi restabelecida na manhã da última segunda-feira, embora a água tivesse continuado desaconselhável para consumo humano até à tarde de terça-feira, dia em que a água das torneiras voltou a ser «igual à de qualquer garrafa comprada», garantiu Marciano Galguinho, vice-presidente da Câmara Municipal. O escorrimento dos detritos dos incêndios que lavraram recentemente na Serra da Estrela para o leito do rio Alva, que abastece o concelho, esteve na origem desta ocorrência. A chuva, que «não durou muito tempo, mas foi muito forte», arrastou cinza e carvão para a bacia do Alva, levando a que, à excepção da Lagoa Comprida, que não foi afectada, todas as outras barragens tivessem que ser despejadas para limpar o fundo. «Nas torneiras era uma autêntica tinta-da-china», conta Marciano Galguinho, referindo que o esvaziamento das represas foi feito pela Hidrocenel, empresa do Grupo EDP que gere as barragens da Estrela, com a qual a autarquia já tinha reunido há 15 dias para preparar esta eventualidade, «mas não prevíamos que ocorresse tão depressa», acrescenta. Tanto o rio como as barragens, com destaque para a da Senhora do Desterro, na freguesia de S. Romão, que abastece 80 por cento do concelho, chegaram a níveis de sujidade muito elevados.

A situação não apanhou completamente de surpresa os serviços da autarquia: «Já prevíamos esta possibilidade há 15 dias, mas pensámos que só aconteceria mais tarde e com uma chuva mais prolongada, que ajudaria a limpar», esclareceu Eduardo Brito à Lusa, recordando ainda que Seia viveu há quatro anos uma «situação idêntica, embora sem esta dimensão». Na verdade, desde sábado valeu à população a ajuda dos bombeiros e também dos muitos fontanários espalhados pelo concelho, tendo ainda esgotado todos os “stocks” de garrafões de água nos supermercados. A fonte das Quatro Bicas, onde chegaram a juntar-se mais de 30 pessoas em simultâneo, e a bica da Vila Alzira, em S. Romão, não conheciam tal afluxo de clientela há alguns anos. Para já, a situação está normalizada a não ser que ocorram mais trovoadas chuvadas descontínuas e chuvadas fortes, porque, como explica o vice-presidente da autarquia a “O Interior”, «ainda há muitas toneladas de cinza nas encostas do rio, que mais tarde ou mais cedo vão ser arrastadas, disso não temos dúvidas». Ainda assim, caso o cenário se repita, desta vez a autarquia diz já ter uma vantagem: «Já estamos avisados, sabemos o perigo e não vamos deixar que a água entre nos reservatórios da nossa Estação de Tratamento de Água», sublinha Marciano Galguinho. O vice-presidente do município recorda ainda que as trovoadas decorreram durante a noite, foram «muito irregulares» e a visibilidade «era nula», daí o facto de a água ter entrado nos reservatórios municipais, deixando uma camada «substancial» que à superfície chegou a atingir os dez centímetros de grossura. A autarquia garante ainda que os senenses compreenderam a situação, uma vez que tiveram a oportunidade de ver como estava o rio e «sabe que não há milagres», referiu Brito, numa altura em que a população do concelho duplica com a chegada dos emigrantes e turistas.

Rita Lopes

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