O anúncio da colocação em venda do Hotel Turismo da Guarda encerra em si mesmo um sinal muito negativo em termos de desinvestimento, de falta de fé das entidades públicas nas potencialidades regionais e de cedência a interesses privados mal conhecidos.
O edifício do Hotel Turismo, talvez o mais emblemático da cidade da Guarda a seguir à esplendorosa Sé, foi adquirido em 2010 pelo Turismo de Portugal à Câmara Municipal da Guarda para nele vir a ser instalado um projeto polivalente de formação turística e hoteleira alargado a toda a Beira Interior, contendo uma Escola de Hotelaria e Turismo focada na formação profissional, um Hotel de aplicação (ou seja, um Hotel Escola em que os alunos aprendem praticando), um Ninho de Empresas de animação turística e de serviços inovadores ligados ao Turismo e um conjunto de outras infraestruturas de apoio à atividade e de serviço à cidade – auditório, restaurante escolar, centro de demonstração de novas práticas e negócios turísticos, salas de provas de vinhos e queijos.
O essencial do investimento associado à requalificação do imóvel para a sua nova vocação seria coberto por fundos comunitários a fundo perdido, assim aplicados numa cidade muito carenciada de novos projetos que a dinamizem economicamente. Basta notar que entre os cerca de 200 alunos, os docentes e formadores técnicos e o pessoal de apoio operacional e administrativo a cidade veria nascer um novo centro dinamizador do seu Centro Histórico e seria colocada no mapa da formação turística nacional.
Por isso se não compreende o desinteresse do atual Governo pelo projeto (apenas por ele ser da responsabilidade dos anteriores responsáveis políticos), que desprezou ao ponto de apostar na degradação do imóvel e na sua não inclusão na rede de Escolas de Hotelaria e Turismo, como ainda se compreende menos bem que o edifício seja posto à venda por um valor base que é cerca de metade do que foi pago em 2010 pelo Turismo de Portugal, baseado numa avaliação feita pelo Ministério das Finanças.
Tendo em conta que em 2010 uma das linhas de ataque ao projeto assentava na suposta disponibilidade de um “privado” (que nunca apareceu a público) para pagar mais do que o Turismo de Portugal, de acordo com a avaliação das Finanças, espanta que tais agentes privados não tenham aparecido até aqui a manifestar interesse. A não ser que o interesse esteja num preço o mais baixo possível e no inerente prejuízo para o interesse público…
Por outro lado, não dispondo o Turismo de Portugal, entre Portalegre e Lamego, de uma Escola de Hotelaria e Turismo capaz de fazer a diferença e de puxar pelo emprego e pelas empresas do sector numa região tão apelativa para o turismo como a Beira Interior e, em particular, a Serra da Estrela, seria de esperar que essa oportunidade fosse assumida e acolhida com entusiasmo pelas entidades e pelos responsáveis políticos regionais.
Embora a extinção da entidade gestora do Turismo da Serra da Estrela, feita pelo atual Governo PSD/CDS, tenha sido uma pesada perda para a capacidade de desenvolvimento turístico regional e para o melhoramento do seu produto e da sua qualidade turística, e já indiciasse a falta de visão estratégica que tem caracterizado muitas das medidas políticas tomadas nesta área, pelo menos esperava-se dos responsáveis políticos e das forças vivas locais alguma capacidade para preencher o vazio entretanto criado.
Pasme-se, por isso, que os atuais responsáveis autárquicos tenham feito da não concretização do projeto da Escola de Hotelaria e Turismo da Guarda um dos seus principais argumentos de campanha eleitoral; que o Instituto Politécnico da Guarda tenha preferido manter-se afastado do projeto em vez de com ele celebrar uma aliança estratégica que consolidasse a Guarda como um centro promotor da qualidade e da formação no campo do Turismo; e que alguns empresários hoteleiros tenham preferido preservar a sua posição de mercado em vez de apostar num crescimento sustentado do Turismo regional, baseado em projetos inovadores e em pessoal qualificado e capaz de um desempenho mais competente e dinâmico.
Não é assim que se faz crescer uma região. Mas é assim que se mata mais uma boa oportunidade de desenvolver o Interior.
Por: Luís Patrão
* Secretário Nacional do PS e ex-Presidente do Turismo de Portugal