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Com uma mulher perigosa no leme, dois caminhos para a Europa

Angela Merkel, chanceler de um dos primeiros estados europeu a violar os limites do défice – problema rapidamente resolvido com adiamentos -, propôs que os países que ultrapassem o défice e o endividamento público exigidos perdessem a sua soberania.

Suspeita-se que a dívida alemã seja, ela mesma, muito superior ao que é confessado. Segundo o jornal “Handelsblatt”, a maior parte das despesas previstas com reformados, doentes e pessoas dependentes não foram nos cálculos. O quer dizer que a dívida alemã poderia vir a corresponder a 185 por cento do PIB da Alemanha, quase igual à grega e muito superior à espanhola, italiana e portuguesa. Já não quero que a Alemanha perca a sua soberania. Basta-me que deixe de querer ter a nossa.

Acho que está então chegada a altura de pôr a chanceler no seu devido lugar. E explicar-lhe que estas declarações são um ato hostil contra aliados, que a coloca na perigosa posição de séria ameaça à independência dos Estados e ao direito internacional. A coisa resume-se de forma ainda mais direta: Angela Merkel é um perigo para a segurança e estabilidade dos países europeus. E é assim que deveria começar a ser tratada pelas instituições europeias e os membros da União.

Entretanto, temos de fazer uma escolha. E em qualquer delas a retórica imperial da senhora Merkel não cabe.

A primeira: os países europeus começam a preparar a desagregação da União Europeia, regressando às velhas nações, e a Alemanha voltará ao degredo de onde a Europa, solidária e complacente, a retirou, esquecendo os seus crimes passados. Sem qualquer possibilidade de, com o seu marco, competir com o dólar. Crescerá enquanto a galinha dos ovos de ouro do Leste render e, quando a festa acabar, fica reduzida à sua dimensão. Dimensão na qual, bem sabemos, sempre sentiu alguma claustrofobia.

A segunda: damos definitivamente o passo para uma Europa Federal. Com harmonização fiscal, orçamento europeu, obrigações da dívida europeias, moeda única e, claro está, união política. Um parlamento europeu com poderes soberanos, um senado com representação igual para cada Estado, um governo e uma Constituição. E nesse projeto europeu os países periféricos deixarão de ser tratados como um simples mercado, onde se comprou a destruição de toda a capacidade produtiva, se despejou os produtos e, quando já nada se podia fazer com eles, se atirou para o lixo. O euro deixará de ser um instrumento ao serviço da economia alemã. O Banco Central Europeu deixará de ser um representante das conveniências de Berlim. Ou seja, Angela Merkel, ou quem a substituir, terá de saber viver com os seus parceiros. Os mesmos que ajudaram a Alemanha – com compromissos políticos e cedências económicas – a reerguer-se e a reunificar-se.

Estas são as duas possibilidades da Europa: voltar para trás ou andar para a frente. Se ficar em cima da ponte que está a ruir as repercussões podem ser terríveis para as democracias europeias.

Só que antes disto, ao que tudo indica, a irresponsabilidade europeia deverá levar a Grécia a sair do euro. E se isso acontecer nós seremos os senhores que se seguem. Ou seja, para nós e para os gregos as ameaças criminosas da senhora Merkel valem pouco. Poderemos vir a recuperar, da pior forma, a nossa soberania: através da saída do euro. E não seria mau que, pelo menos, trabalhássemos nesse cenário. E nos preparássemos para ele. A esse assunto irei um destes dias.

Por: Daniel Oliveira

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