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«Com um pequeno esforço conseguimos alegrar o Natal de alguém»

Instituições agradecem generosidade própria da época mas lembram que é preciso ajudar os mais necessitados o ano inteiro

Há cada vez mais pessoas a pedir ajuda às instituições de solidariedade da Guarda. Alimentos, roupa ou contas por pagar são os pedidos mais frequentes numa altura em que os novos pobres e a pobreza envergonhada trazem mais preocupações. «Não vale a pena dizer que a situação está a melhorar porque as pessoas sentem a crise na pele», garante Maria do Carmo Borges a O INTERIOR.

A presidente da delegação local da Cruz Vermelha acredita que no Natal os mais necessitados pedem e «precisam de mais aconchego, como todos nós», pelo que, além de alimentos, há pedidos de roupa e brinquedos, o que gera, por vezes, alguma dificuldade na resposta. Ainda assim, os guardenses ajudam sempre, mas «não apenas por ser Natal, somos uma cidade solidária por natureza. Há um bom retorno, temos uma boa recetividade quando pedimos algo», sublinha a responsável. Até mesmo quem vive com limitações ajuda «com o pouco que consegue e dá com todo o carinho», afirma. No entanto, Maria do Carmo Borges defende que são precisos novos projetos já no próximo ano para ir ao encontro dos carenciados. «Há muitas pessoas que sofrem dentro das suas casas, não podendo dar aos filhos o que gostariam», lamenta. Já as portas da instituição estarão «sempre abertas para ajudar», embora reitere que a delegação da Cruz Vermelha precisa de uma nova sede.

Na Paróquia da Sé e S. Vicente «o Natal é todos os dias e nós tentamos ajudar todos os dias», reitera Fátima Costa. Os pedidos mais comuns dizem respeito a contas por pagar de água, luz, farmácia e rendas, sendo que a instituição não recolhe bens materiais. «Aparecem muitas rendas, de estudantes tem sido um pandemónio», exclama a diretora técnica. «Tentamos gerir os recursos da melhor maneira, pelo que, por vezes, só pagamos uma parte e a pessoa tem de arranjar a diferença», adianta Fátima Costa, salvaguardando que é a paróquia que liquida as contas. Isto para evitar burlas, que já aconteceram, mas não só: «Há pessoas que não voltam a aparecer e chegamos à conclusão que só queriam o dinheiro», considera. A responsável alerta para o facto de haver alunos que não recebem bolsa escolar «porque conta o orçamento do ano anterior e os pais foram despedidos há pouco tempo». Também a pobreza «envergonhada» preocupa Fátima Costa, que apela aos guardenses para que estejam atentos e informem a Paróquia destes casos. De forma «rotineira», a instituição apoia entre 30 a 40 pessoas, com algumas a repetirem-se no mesmo mês. Para evitar casos de apoio duplicado, as diferentes instituições da cidade reúnem mensalmente desde janeiro.

Já o apoio do Banco Alimentar da Cova da Beira é feito através das instituições parceiras. «Há uma maior solidariedade no Natal, mas há necessidades 12 meses por ano», sublinha Paulo Pinheiro. Mesmo assim, o êxito das campanhas mais recentes não é tudo e são as ajudas-extra que equilibram a “balança”: «Na última campanha recolhemos 44 toneladas de alimentos, o que é bom, mas apoiamos cinco mil pessoas», recorda o presidente da direção do BA Cova da Beira, acrescentando que «isso dá nove quilos por pessoa durante seis meses, 1,5 quilogramas por mês».

A época natalícia promove alguns “mimos”, havendo quem ofereça chocolates: «O BA tenta distribui-los por instituições com crianças», refere. A procura também tem vindo a aumentar, «não por ser Natal, mas sim pela crise profunda que enfrentamos», vinca Paulo Pinheiro. «São precisos cada vez mais alimentos e temos uma necessidade de chegar a mais pessoas», entende. O responsável reitera que é preciso estar atento a quem mais precisa: «Com um pequeno esforço conseguimos alegrar o Natal de alguém», assevera. Apesar das várias tentativas, O INTERIOR não conseguiu obter a posição da Cáritas da Guarda em tempo útil.

Sara Quelhas «O Natal é todos os dias», defende Fátima Costa

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