A propaganda é a arte que permite vender um frigorífico a um esquimó, colocar um etíope a dieta ou convencer os sócios de que o Benfica vai estar entre os 5 melhores do mundo em 3 anos. Toda a gente o sabe, toda a gente a pratica e toda a gente se deixa enrolar por ela. Toda?
Para além de autor destes pequenos textos, sou também leitor de jornais (e de outras coisas) pelo que as manchetes me entram inevitavelmente pelos olhos dentro. De há muito tempo a esta parte tem vindo o conselho de administração (CA) do hospital a usar os meios de comunicação cá da terra para fazer eco das suas façanhas. Com toda a legitimidade, diga-se, pois se toda a gente o faz…! Se não é um autocarro cheio de pediatras novinhas em folha (com unidade de transplantes incorporada!), é um aparelho de TAC reluzente e a funcionar; se a colocação de um pace-maker num doente é notícia, por que não há-de sê-lo a iminente abertura da sala de operações da obstetrícia? Pelo meio há ainda tempo de recomendar publicamente aos médicos oftalmologistas do hospital que façam o favor de ser inteligentes por forma a viabilizar o funcionamento da Unidade Móvel de Oftalmologia (UMO) cuja gestação (que não a amamentação) foi da autoria desses mesmos médicos e do anterior CA, diga-se de passagem.
Tudo isto tem um nome: propaganda. Não o afirmo em tom verrinoso ou depreciativo. Apenas constato um facto.
No entanto, a utilização da imprensa para acções de propaganda por uma instituição pública como (ainda) é o hospital de Sousa Martins, deixa a descoberto uma pequena parte da lingerie por onde podemos espreitar. E contar o que vimos. Podemos nós, os leitores e nós, os cronistas. Não há lugar depois a protestos por parte de personagens tão melindradas quanto alaranjadas.
Se pensarmos que das parangonas que acompanharam a vinda das novas pediatras já só resta a memória, tão escasso é o seu número (neste momento há apenas um único médico no quadro); que o serviço de imagiologia se resume a um aparelho de TAC nas mãos da nova ordem(?) que lá reina, no meio de um ambiente de cortar à faca; que não sabemos muito bem quantos sucessores houve daquele solitário pace-maker; que a UMO não mexe por não quererem pagar aos médicos (fora do seu horário de trabalho) o que estes consideram ser justo; e que a nova sala de operações já devia estar a funcionar há muitos meses… . Se pensarmos ainda que o refeitório do hospital não é propriamente o local mais aprazível para ir jantar à luz das velas; que a médica do trabalho foi corrida sem que tivesse sido substituída (porque terá sido?); que há directores de serviço a tomar conhecimento das novidades através dos jornais; que o director clínico continua na sua campanha autista e triunfante, parecendo ignorar o facto de que só continua no posto por falta absoluta de alternativa, apetece dizer, recordando um anúncio brilhante de há uns anos: estes publicitários são um bocadinho exagerados!
Por: António Matos Godinho