Ao fim de meses de uma luta inglória pela chamada de atenção sobre o problema do encerramento da maternidade da Guarda, finalmente os dois deputados eleitos pelo PS decidiram mexer-se. Visitaram o hospital, falaram com o conselho de administração, colheram dados e deram a cara em defesa de uma causa que, semana sim, semana não, parece perdida.
A notícia da iniciativa dos Drs. Pina Moura e Fernando Cabral permite, porém, levantar duas ou três questões: a primeira, óbvia, é porquê só agora? A segunda, tão óbvia como a primeira, é porquê só os deputados do PS? Onde andam os do PPD? Ou será que, por definição, causa que interesse a uns, automaticamente desinteressa os outros? A terceira questão relaciona-se com o futuro. Então e agora? Que outras iniciativas irão estes senhores tomar?
Há já muito tempo que se tornou claro que não são os argumentos de natureza técnica que têm servido para alimentar a iniciativa de encerrar a maternidade da Guarda. Esses argumentos, os técnicos, jogam contra os políticos que têm interesse em apostar na Covilhã. Tal como foi (só) agora descoberto pelos Srs. deputados, a maternidade da Covilhã é de pequena dimensão, tem escassez de profissionais e nunca conseguiu cumprir, nem aproximar-se dos requisitos mínimos exigidos pela Ordem dos Médicos. Por esses motivos, a invocação de argumentos de natureza técnica por parte dos senhores políticos, omite sempre o caso da Covilhã, escolhendo para vítimas a sacrificar na comunicação social terras como Lamego, Elvas, Barcelos, Oliveira de Azeméis, Guarda, etc.
A questão, em Lisboa, joga-se no campo político e não técnico e enquanto estes senhores deputados não perceberem (ou não quiserem perceber) isso, de nada valerão os números, as estatísticas ou os argumentos de natureza técnica.
Correndo embora o risco de um simplismo redutor, podemos conjecturar que esta pseudo-reformulação das maternidades da Beira Interior, não é mais do que o princípio do fim do hospital de Sousa Martins enquanto tal, por troca com um mega-hospital central sediado na Covilhã. Vai uma apostinha?
Partindo desta base, não há outra forma de abordar este assunto junto das mais altas esferas do poder, que não seja o da clarificação do futuro do hospital da Guarda enquanto tal. Levantar a questão do novo hospital, exigir clareza, definir objectivos, estabelecer o número e o tipo de valências, o número de camas e qual a população a servir. Só dessa forma podemos ficar realmente a saber se a maternidade fecha ou não fecha, se o hospital fecha ou não fecha e se esta terra está ou não condenada a um papel secundário e menor num futuro não muito distante.
Senhores deputados, mãos à obra. Ou isto foi tudo fogo de vista?
Por: António Matos Godinho