O tradicional cobertor de papa produzido em Maçainhas (Guarda) é tema de uma exposição no centro comercial La Vie até 9 de fevereiro. A mostra foi inaugurada na sexta-feira com um desfile de moda que impressionou a plateia pelos mais diversos usos que lhe podem ser dados. Casacos, artigos de decoração, malas ou cachecóis, foram alguns dos exemplos apresentados.
Segundo o diretor do La Vie Guarda, Amaro Correia existe «um interesse naquilo que é um ADN próprio da região, as pessoas identificam-se com isso».
A verdade é que longe vão os tempos em que este produto tradicional era apenas usado por pastores, ou para aquecer as camas no Inverno rigoroso da Guarda. Depois de alguns anos a cair em desuso, o cobertor de papa está a renascer com um toque de modernidade. A culpa é da Escola de Artes e Ofícios de Maçainhas, que continua esta arte artesanal. Depois da crise que afetou a região e levou ao encerramento de várias fábricas, a escola, que pertence ao Centro Social e Paroquial da localidade, decidiu assegurar a continuidade do cobertor de papa e pôs novamente os teares a trabalhar.
No início diretora técnica da IPSS deparou-se com o que poderia ser um problema: «Não estava adaptado às novas exigências, aos novos espaços nem às gerações», recorda Carina Cardoso. Mas isso não foi impedimento para avançar. Licenciada na área social, a responsável mostrou ter uma veia criativa. «As pessoas fogem do cobertor porque pica, tem uma textura peculiar, foi aí que pensei que se o desconstruíssemos poderíamos chegar a outras gerações e contextos». Como fazer peças de vestuário requeria alguma técnica, pois «é um material difícil de trabalhar», a aposta foi então nos acessórios e «foi resultando», considera. Estes novos usos ganharam fama e já no ano passado o cobertor de papa desfilou no Moda Lisboa e no Portugal Fashion em peças criadas pelo estilista Filipe Faísca. A escola tem trabalhado também com outra estilista, Alexandra Moura e com alunos de design do Politécnico de Castelo Branco, colaborações que «vieram dar algum alento e permitem um acabamento mais profissional».
Faltam apoios para garantir continuidade
Hoje em dia o cobertor de papa tem conquistado fãs por todo o país e até mesmo pela Europa. Pequeno para as camas atuais, o tear apenas permite 170 cm de largura, a escola tem procurado «inovar com tradição», assegura o responsável José Silva, segundo o qual uma das preocupações é «manter tudo o que é genuíno no processo de criação». No entanto hoje existe um leque de cores muito maior e as encomendas podem ser personalizadas. Apesar desta boa fase o futuro ainda não está assegurado por falta de apoios ao projeto que depende de uma IPSS, «também ela, naturalmente, com dificuldades», adianta Carina Cardoso. O objetivo da escola é «garantir o futuro do cobertor de papa e temos cuidado para não adormecer», acrescenta José Silva. No entanto faltam também pessoas para trabalhar nesta. A escola já fez algumas formações, das quais resultaram alguns tecelões e em breve tenciona formar mais, mas «faltam apoios à contratação», lamenta o responsável.
Ana Eugénia Inácio