Cerca de três dezenas de clientes do BPN tentaram, na semana passada, levantar as suas poupanças e aplicações financeiras na dependência de Seia, mas sem sucesso. «Dirigi-me ao balcão, mas fui informado que não havia dinheiro na conta», relatou a O INTERIOR um dos lesados, que pediu para não ser identificado.
Em sinal de protesto, este cliente foi um dos que se manifestou depois à porta da agência bancária até ao meio da tarde de quarta-feira, sob a vigilância de meia dúzia de elementos da GNR. No entanto, não se registaram quaisquer problemas. A manifestação foi convocada pela Associação Nacional Defesa Direitos Clientes do Banco Português de Negócios (ANDDCBPN) e juntou pessoas de Seia, Sabugal, Guarda e também do distrito de Viseu. Esta entidade tem vindo a aconselhar os lesados a apresentar queixas e a fazer valer os seus direitos junto da Comissão de Mercados de Valores Mobiliários (CMVM). António Henriques, presidente da associação criada há cerca de um mês, classifica de «burla» o que se passou no BPN. «As pessoas foram enganadas ao serem assediadas para transferir as suas poupanças para papel comercial da SLN Valores com a promessa de boa rentabilidade. Como não lhes falaram dos riscos associados, hoje, esse dinheiro voou, desapareceu literalmente», acusa.
No distrito da Guarda haverá mais de uma centena de prejudicados e «alguns milhões em causa», mas, segundo a ANDDCBPN, em termos nacionais, serão mais 200 milhões de euros perdidos por clientes do banco de Oliveira e Costa e que estão a organizar-se para os recuperar. Curiosamente, no dia seguinte ao protesto, o Governo decidiu reprivatizar a totalidade do capital social do BPN. A decisão saiu do último Conselho de Ministros, que deliberou vender 95 por cento do capital do banco através de concurso público aberto a instituições de crédito e empresas de seguros. Os restantes cinco por cento serão cedidos mediante uma Oferta Pública de Venda (OPV) reservada aos trabalhadores. As acções adquiridas por concurso público representam 51 por cento do capital e ficam indisponíveis pelo prazo de cinco anos.