A janela manuelina que espreita a meio da Rua Francisco dos Passos, no centro histórico da Guarda, foi classificada como Monumento de Interesse Público. A portaria nº 146/2013, assinada pelo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier e publicada na passada sexta-feira no “Diário da República”, justifica a decisão com o seu «valor estético, técnico e material intrínseco», além da sua «conceção arquitetónica, urbanística e paisagística».
A janela do antigo Paço Episcopal era Imóvel de Interesse Público desde 1978, mas esta decisão continuava por homologar porque a Câmara da Guarda nunca chegou a publicar o correspondente edital para audiência de interessados, como noticiou O INTERIOR em outubro (ver edição de 25/10/2012). Esta janela renascentista sobressai na fachada de um austero edifício de granito na antiga Rua Direita, a uma dezena de metros da Igreja de São Vicente. Segundo algumas tradições, a casa teria albergado o Paço Episcopal medieval, onde o Bispo D. Álvaro de Chaves foi assassinado por um criado, que o terá lançado à rua de uma janela. No entanto, para o Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico (IGESPAR) tudo não passará de estória, embora a janela se mantenha no imaginário local como «referência irresistível» a esse episódio. Lendas à parte, a janela quinhentista terá resultado «necessariamente de encomenda esclarecida, situada em prédio de uma das principais artérias da Guarda medieval, embora não obrigatoriamente ligada a um dignatário da Igreja».
O IGESPAR considera também que a sua feitura terá sido paralela à construção da terceira Sé da Guarda [a atual], entre os finais do século XIV e o século XVI, «sendo que este o seu estaleiro, ativo durante tanto tempo, terá necessariamente influenciado as opções estéticas da cidade». O resultado está à vista e combina uma «elegante composição renascentista com elementos de gosto florentino», apresentando «semelhanças com a molduração do pórtico da Capela dos Pinas na Sé», o que a confirmar-se uma relação direta entre ambas as obras, «ainda que apenas a nível do executante, poder-se-á situar a sua realização já no reinado de D. João III», refere o IGESPAR.
