A polémica entre o maestro Luís Cipriano e a Câmara da Covilhã voltou a reacender-se no último domingo, depois da Associação Cultural da Beira Interior (ACBI) ter sido impedida pela autarquia de proceder à inauguração da sua nova sede na antiga fábrica das águas “Sete Fontes” por não possuir os sistemas de segurança adequados. A ACBI está actualmente fechada e aguarda pelo resultado da providência cautelar entregue no tribunal da Covilhã para anular a decisão camarária.
O despacho assinado pelo vereador João Esgalhado, responsável pelo pelouro da Protecção Civil, põe em causa as medidas de segurança no novo espaço, transformado em sede, escola com salas de exposições, auditório com capacidade para 200 pessoas, dez salas de aulas e polivalentes, sala de informática com oito computadores e biblioteca, «sem ter sido obtida antes a respectiva licença ou autorização para as realizar». Por isso, a autarquia diz «ignorar se o edifício cumpre com os respectivos normativos de segurança em termos de prevenção de incêndios», refere o despacho, a que “O Interior” teve acesso. Mesmo reconhecendo que falta colocar ainda alguns extintores e outros sistemas de detecção de incêndios, bem como construir uma rampa para deficientes, Luís Cipriano considera esta medida mais uma «perseguição» de Carlos Pinto ao trabalho da associação dirigida pelo maestro, que tem vindo a acusar o autarca de o perseguir «pessoal e profissionalmente» desde a suspensão de um protocolo entre as duas instituições. Isto porque, de acordo com o maestro, há muitas associações que «continuaram a funcionar» mesmo sem as obras concluídas, sendo que apenas a ACBI ficou impedida de continuar. Recorda, de resto, que o pedido de alteração do uso das instalações e o projecto de obras internas amovíveis tinham sido entregues na sexta-feira passada, quando o prazo limite estava estabelecido para 21 de Abril.
Para além disso, Cipriano acusa que muitas associações e escolas do 1º ciclo de ensino básico do concelho estão a funcionar sem as devidas medidas de segurança, caso do Conservatório Regional de Música da Covilhã ou da Escola Profissional de Artes da Beira Interior (EPABI), exemplifica, sendo que esta última se mantém em funcionamento com a permissão da Câmara apesar de «não ser licenciada há dois anos» pelos bombeiros. «Aí não há fiscais», ironiza o maestro, prometendo denunciar o caso à Comunidade Europeia e elaborar um relatório sobre «todas as escolas do concelho que não têm aquilo que nos exigem a nós, que somos uma associação». Tudo para que haja «tratamento igual» entre as associações, prometendo assim uma luta acesa com o executivo. «É claro que se tivesse uma placa com o nome de Carlos Pinto, a situação era outra», acusa.
Para o vereador João Esgalhado, o maestro da ACBI devia ter «vergonha» e «juízo» em vez de proferir tais declarações: «Não se mete uma associação como aquela ao serviço do público sem as devidas condições», avisa, alertando que os fins e o «grau de exigência» para o qual é agora usado o edifício é «completamente diferente» do solicitado pela empresa de águas nos cinco anos de laboração. Além disso, acusa o próprio maestro e a proprietária do imóvel de não terem feito mais cedo o projecto e as alterações necessárias para obter o licenciamento. «Um projecto desta natureza não se vê em meia hora», sublinha, visto serem necessários muitos pareceres, entre os quais o dos bombeiros. «Quem assumiria as culpas se houvesse algum acidente e nós tivéssemos autorizado a abertura», questiona o vereador, que lembra que o espaço destina-se sobretudo a crianças e jovens. «Isto é o aproveitamento de uma situação que visa o cumprimento de uma legislação para ir buscar fantasmas que não existem», critica João Esgalhado, alegando que a Câmara «nunca» poderia permitir a abertura de uma nova sede com a legislação do passado quando há uma nova lei em vigor.
Luís Cipriano candidato contra Pinto nas autárquicas
O maestro e presidente da Associação Cultural da Beira Interior pondera concorrer como independente à Câmara da Covilhã nas próximas autárquicas caso Carlos Pinto se recandidate. «Não excluo a hipótese de entrarmos na próxima campanha política se Carlos Pinto concorrer», afirma o maestro, acreditando conseguir pelo menos 300 ou 400 votos. Uma luta que não é pessoal mas de toda a colectividade: «Enquanto esta associação estiver fechada, o projecto chama-se Carlos Pinto. Como não temos sítio para tocar ou ensaiar, vamo-nos dedicar a Carlos Pinto», ameaça Luís Cipriano.