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Cinismo e hipocrisia

Agora Digo Eu

Olhando para aquilo que, aos poucos, se vai conhecendo da recente descoberta jornalística do legal ou ilegal esquema vigarista e burlão dos Panamá Papers, uma verdade evidente salta-nos de imediato à vista: O sermão de Frei Tomás. Independentemente do que ele diz e do que faz, desta vez o caso tem contornos de oportunismo, malvadez, mentira, cinismo e hipocrisia.

Se por um lado os grandes e poderosos deste mundo condenam o tráfego de droga, a indústria do armamento que coloca nas mãos dos terroristas armas cada vez mais sofisticadas, o apoio da banca a múltiplos financiamentos imorais, por outro, no revés da medalha, fruto das influências que a posição social e política aporta, do dinheiro, tantas vezes sujo, de que se vão apropriando, permitem passivamente um apoio consentido, encapotado, despreocupado e perfeitamente imoral ao crime organizado, ao terrorismo, ao tráfico de influências, de droga, em suma, a todos os esquemas mafiosos desta terra, gerando conflitos entre povos sujeitos a situações particulares de pobreza onde a desigualdade e exclusão política e social é uma realidade explorando de forma baixa, vil e miserável os sentimentos dos intervenientes acicatando a crença em Deus, em Alá, num misto de ódio, inveja e raiva. Forma atual e capaz de continuarem sempre na mó de cima, com todos os proveitos que lhe vão permitindo, e de que maneira, continuar arredondar a pança e a bolsa.

A bola de neve de todo este esquema demoníaco, consentido por bancos e entidades reguladoras, pode muito bem começar num modesto político ou empresário, num príncipe ou jogador de futebol de uma qualquer freguesia, engrossa substancialmente ao longo da encosta, atingindo dimensões até agora inimagináveis. Recorde-se que, em 2010, Julian Assange, revelou no seu “Wikileaks” a ponta de um iceberg de tamanho indefinido para presentemente verificarmos que o poder associado ao vil metal arrasta consciências, arredando princípios e valores de pessoas com responsabilidades ao mais alto nível, que se esquecem, ou não lhes interessa saber ou conhecer, que a condução dos destinos da Humanidade, segundo Santo Agostinho, é uma missão quase divina. Estes senhores que nos dirigem não prestam. Estão podres. Têm de ser imediatamente substituídos.

Razão tinham os gregos quando situações destas aconteciam. É que nem os grandes conseguiam segurar os mais valentes, poderosos e inteligentes. Basta ver o exemplo do grandioso mestre quando este foi acusado de corromper a juventude e introduzir na cultura outros e novos deuses. A sentença foi quase unânime e instantânea. Morrer pela ingestão de cicuta. A seguir, Atenas teve de imediato novos protagonistas como Ésquines, Hermógenes, Isócrates, estabelecendo, todos eles, novas regras, novos métodos, novos horizontes e novas fronteiras.

John Kennedy, no discurso que proferiu na convenção do Partido Democrático, em 1960, que o nomeou candidato oficial à presidência dos Estados Unidos, estabeleceu com o povo americano uma série de compromissos, também designados como “Novas Fronteiras” onde a palavra Verdade foi convictamente pronunciada e muito bem ouvida. Curiosamente, o lema da maior universidade americana, Harvard, onde se licenciou John Kennedy e o atual presidente Barack Obama, é Veritas (Verdade) e é em função dessa mesma Verdade e no respeito que é devido à pessoa humana que futuramente temos de definir conceitos, excluindo os mentirosos, cínicos e hipócritas, cultivando os princípios da ética e da moral, encontrando sempre, mas sempre, o seu fundamento na razão.

Estes, felizmente, já começaram a cair e tal como os velhos gregos venha de imediato o julgamento, concluindo-se pela urgente necessidade de se arranjarem, de se inventarem, de se descobrirem outros e novos políticos. Outras e novas políticas, outras e novas fronteiras…

Por: Albino Bárbara

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