Tenho a anunciar que regressei à oposição, cumprido o objectivo de erradicar Santana Lopes e outros do governo. É claro que dou a José Sócrates o habitual e protocolar benefício da dúvida, até porque é benfiquista, mas a dúvida metódica e o cepticismo cínico e desencantado que se foram ao longo dos anos apoderando de mim ditam regras: às vinte horas e um minuto de domingo, regressei à oposição.
Posto isto, verifico com agrado que a decência, o pudor, a honestidade, o sentido de dever ainda significam alguma coisa para milhões de portugueses. A mobilização nacional para a higienização pública fez regressar muita gente à política. Nem que fosse por uma breve meia hora de um solarengo dia de Inverno. Essa gente continua vigilante, toda ela, e quer deixar bem claro o seguinte: boa parte da sociedade portuguesa, muito maior do que se pensava, é exigente, conhecedora das questões importantes, crítica, insatisfeita.
Santana Lopes chegou a acreditar que podia ganhar com os votos do “lumpen”. Pensou que a maioria dos portugueses é fanática dos reality shows, das telenovelas, do jornal do crime (minúsculas), da boataria infame, e que bastava apelar aos baixos instintos dessa imensa maioria (?) para fazer estremecer as urnas. Enganou-se. Parece que esta sociedade, embora doente, tem em si as potencialidades da cura e que há fronteiras que ela recusa atravessar.
Depois de um primeiro momento em que parecia que tudo tinha sido em vão e que os derrotados não tinham aprendido nada, começou a aparecer algum bom-senso. Santana Lopes decidiu não querer ser corrido do seu lugar a pontapé. Não é que o gesto lhe fique bem, até porque é tardio e demasiado óbvio. É que o seu exemplo deveria fazer escola, assim como a fizeram em tempo de campanha os seus métodos. Como é, Dra. Ana Manso?
Quanto a Sócrates tenho-lhe destinado meio quartilho de cicuta, a envelhecer em cascos de carvalho. Por enquanto, enquanto o veneno (ou remédio) enriquece os seus taninos e ganha sabores a ervas aromáticas, a couro e a tabaco, aguardemos pelo programa de governo e pelo orçamento rectificativo. Atentamente.
Por: António Ferreira