Com uma voz de grande doçura, uma sonoridade orgulhosamente brasileira, o sentimento à flor da pele (nunca exagerando) e poemas de grande excelência, Chico Buarque toca-nos de várias maneiras a alma, sempre com grande elegância e humildade, duas qualidades que muito admiro.
A sua voz é das mais bonitas da música brasileira e as suas interpretações primam pela sinceridade e franqueza, tanto nos andamentos mais alegres como nos infelizes, revelando um gosto verdadeiro e ávido pela música.
No entanto, o que mais me encanta nele é a brilhante poesia. Se o seu cantar nos atinge certeiro o coração, a sua poesia vai mais longe e ilumina-nos a mente, umas vezes partilhando tristeza, outras encanto, outras angústia ou revolta, mas sempre com a maior beleza.
A sua poesia é sobre o povo, o seu tema predileto é a vida de dificuldade e luta da sua gente. No tempo da ditadura brasileira (1964-1985) Chico Buarque criou das maiores obras poéticas de revolta e resistência que já li contra um regime que impunha o sofrimento e o silêncio; uma obra poética acutilante, sagaz, muitas vezes difícil de ler e de assimilar devido à grande violência dos temas de que trata (desesperança, pobreza, injustiça). É por isto que mais o admiro, por ser uma voz representante e sonora dos que sofrem opressão e um lutador ativo pelos valores fundamentais da liberdade e da justiça.
Joana C. Pereira