No espaço de sete anos (os anos da crise financeira), o número de portugueses a sofrer de doenças mentais aumentou mais de 10 por cento. Se em 2008, a prevalência de doenças como a ansiedade crónica e a depressão na população era de 19,8 por cento, em 2015 esse valor subiu para os 31,2 por cento, avança o “Público” esta sexta-feira.
Estes valores são referentes a um estudo do Lisbon Institute of Global Mental Health, que será apresentado hoje, em Lisboa. «Confirma-se que, de facto, os determinantes económicos e financeiros têm uma influência muito grande na saúde mental das pessoas», disse José Caldas de Almeida, coordenador do estudo.
Para o especialista, a relação entre a crise e a degradação da saúde mental não é «surpreendente». «Nós já tínhamos em 2008 uma prevalência de doenças mentais bastante mais elevada do que a média europeia e, portanto, esperaríamos que a margem de crescimento não fosse muito grande. Por outro lado, medimos a prevalência só agora em 2015, numa altura em que vários aspetos da crise já estavam a ser ultrapassados e em que o pior da crise já deveria estar superado», explicou o especialista.
Entre 2008 e 2015, o número de casos de perturbação mental grave aumentou de 1,8 por cento para 6,8 por cento; os problemas ligeiros passaram de 13,6 por cento para 16,8 por cento e os problemas moderados aumentaram também de 4,4 por cento para 7,6 por cento.
Outro dos dados que o estudo põe em evidência a forma como pessoas com dificuldade em cumprir o pagamento dos créditos revelaram perturbações com mais frequência. Mais de 40 por cento dos inquiridos, de um total de 991 casos, referiram uma descida de rendimentos desde 2008. Cerca de metade perdeu rendimentos devido ao corte de salários e pensões, 14 por cento por desemprego, 6 por cento por mudança de emprego e 5 por cento porque se reformaram.