O cenário é desolador. Se a intenção da Ministra da Educação de encerrar as escolas do primeiro ciclo (antigo ensino primário) que tenham menos de 20 alunos se vier a concretizar, já no próximo ano lectivo. No distrito da Guarda poderão encerrar cerca de 150 escolas, quase metade das que existem actualmente. Há concelhos que ficam só com um estabelecimento aberto.
Com a aplicação desta medida, e segundo os números do executivo distrital do Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC), o distrito da Guarda verá encerradas quase 50 por cento das escolas do primeiro ciclo. Das 323 escolas actualmente a funcionar, apenas cerca de 150 escolas têm mais de 20 alunos a frequentar as aulas. As restantes poderão vir a encerrar as portas, à semelhança do que tem acontecido nos últimos anos nas escolas com menos de dez alunos. «Ao aplicar-se esta intenção vão encerrar muitas escolas no distrito, porque a fasquia lançada pela Ministra é muito elevada», atira Sofia Monteiro, do Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC), acrescentando que «há muitas escolas na região com dez alunos». Para a responsável sindical esta intenção «seria mais corajosa se houvesse um princípio de investir nas escolas que não oferecem as melhores condições». Segundo os dados do sindicato, o agrupamento de Manteigas (quatro escolas actualmente), Almeida (sete escolas), Vilar Formoso (cinco escolas), Mêda (onze escolas) só têm, cada, um estabelecimento do primeiro ciclo que cumpre os critérios que lhes permitirá continuar com as portas abertas. Também, o agrupamento de Escolas de São Miguel na Guarda passava de 19 escolas para seis, o agrupamento de Escolas da Sequeira, de 23 para cinco, o agrupamento de Escolas de Figueira de Castelo Rodrigo, de 13 para duas, o agrupamento de Escolas de Pinhel, de 26 para três, entre tantos outros exemplos. Sofia Monteiro reconhece que «há uma necessidade de reordenar a rede educativa», no entanto, «o encerramento não pode ser administrativo», adianta. Por isso defende que seja revisto «caso a caso», até por causa das distâncias que separam as casas dos alunos das escolas, «o transporte tem que ser tido em conta», avisa a responsável sindical. Caso contrário as crianças têm que percorrer muitos quilómetros diariamente, «vão sair muito cedo de casa e chegarão muito tarde, não restando muito tempo para estudar», adverte Sofia Monteiro. Para a dirigente as escolas só vão encerrar por culpa do próprio Ministério, e dos sucessivos governos, que «não têm investindo nestas infra-estruturas, assim, os pais que querem o melhor para os filhos, colocam-nos em escolas com boas condições». Para Sofia Monteiro, em vez de fechar estabelecimentos «o Governo devia investir na qualidade do ensino». Daí, a responsável sindical alertar para a necessidade de combater o encerramento das escolas com menos de vinte alunos.
Já este ano lectivo, o distrito da Guarda viu encerrados os estabelecimentos de ensino de Fiães, Ribeira de Freixo (Trancoso), Peneda da Sé, Panóias de Cima (Guarda), Quinta de São Bartolomeu (Sabugal) e Quinta Pêro Martins (Figueira de Castelo Rodrigo). Bem como as escolas de Ramela e Vendada, que no último ano não acolheram alunos, ficaram suspensas oficialmente. Em 2004 foram 46 as escolas que encerraram na Beira Interior, menos que este ano, com 26 na Guarda e 20 em Castelo Branco.
Também o responsável da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) para questões do 1.º ciclo, Francisco Almeida, em declarações à Lusa, se mostrou muito preocupado com a extinção de muitas escolas «se o critério for acabar com as escolas com menos de 20 alunos, há concelhos inteiros, dos distritos de Viseu, Guarda, Castelo Branco… em que vão encerrar todas as escolas. E depois?», questionou: «Vão-se construir escolas de dimensão média ou vão obrigar crianças de seis anos a deslocações de uma hora para as aulas todas as manhãs?».
Escolas do distrito na lista negra
Em entrevista publicada no jornal “Público”, a Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, confessou a intenção de vir a encerrar, já no próximo ano lectivo, as escolas do 1º ciclo que tenham menos de 20 alunos. A responsável pela tutela da educação referiu ser objectivo encerrar aquilo que chamou «escolas de insucesso», que são sobretudo instituições do primeiro ciclo e de pequena dimensão, escolas onde o nível de repetência é muito superior à média nacional. Segundo Maria de Lurdes Rodrigues o levantamento já está feito, bem como está encontrado a correlação entre as escolas com poucos alunos e os níveis de insucesso escolar, «pedi para as listarem e chegámos a um total de 512». Quando lhe perguntam se encontraram outras correlações com insucesso, a Ministra da Educação adiantou que identificaram «pontos negros à volta de Bragança e da Guarda». Do número total de estabelecimentos a encerrar trinta por cento das escolas pertencem ao distrito da Guarda, segundo dados do Sindicato dos Professores da Região Centro. Assim, do Agrupamento de Escolas de São Miguel poderão encerrar a Escola Básica do Adão, Albardo, Aldeia Viçosa, Alvendre, Barracão, Carapito Salvador, Carvalheira, Cavadoude, Cubo, Faia, Galegos, João Antão, Marmeleiro, Rocamonde, Vila Cortês do Mondego, Vila Fernando, Vila Franca do Deão, Vila Garcia e Vila Mendo. Do Agrupamento de Escolas da Área Urbana da Guarda poderão encerrar as portas a Escola Básica do 1º Ciclo da Benespera, Vale de Estrela, Valhelhas e Vela. No Agrupamento de Escolas da Sequeira estão 18 escolas na lista negra, como a Arrifana, Avelãs da Ribeira, Carpinteiro, Casal de Cinza, Castanheira, Codesseiro, Fernão Joanes, Gonçalbocas, Guilhafonso, João Bragal, Maçainhas, Meios, Menoita, Montes, Pêro do Moço, Rapoula, Ribeira dos Carinhos e Outeiro de São Miguel. Mas estas são apenas algumas das escolas de uma extensa lista de escolas do distrito da Guarda que terão que encerrar as portas.
Patrícia Correia