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Célula estaminal: “a célula dos sete ofícios”

mitocôndrias e quasares

Durante as últimas semanas, o debate, na comunidade científica, acerca da criopreservação de células estaminais foi retomado com a polémica sobre se esta preservação deveria ser feita pelo sector público ou pelo privado. Olhando a montante desta polémica surgem questões interessantes, como por exemplo, o que são células estaminais, quais as suas fontes e a sua utilização.

Esta “aventura” pelas células estaminais iniciou-se há cerca de 30 anos entre as décadas de 60 e 70, com as primeiras investigações a centrarem-se nas células estaminais do sangue.

As células estaminais apresentam a propriedade extraordinária do seu futuro ainda não estar “decidido”. Podem transformar-se em vários tipos de células diferentes. Nas fases iniciais do desenvolvimento embrionário, as células estaminais do embrião diferenciam-se em todos os tipos de células existentes no organismo – ossos, cérebro, coração, músculos, pele, entre outros.

As células estaminais do embrião, juntamente com as células estaminais somáticas e as estaminais somáticas adultas constituem os três tipos de células estaminais existentes. Estes três tipos existem em diferentes fases da vida do indivíduo, apresentando características diferentes. Assim, as células estaminais embrionárias estão presentes somente no embrião, numa fase ainda muito precária do desenvolvimento embrionário, as estaminais somáticas encontram-se presentes em fases mais tardias do embrião e feto e as estaminais somáticas adultas encontram-se presentes no adulto.

As células estaminais embrionárias proliferam muito rapidamente e assumem a identidade dos mais de duzentos tipos de células do organismo. As células estaminais somáticas adultas, mantêm um certo grau de capacidade proliferativa e têm características que as tornam capazes de se diferenciarem em células de diversos tecidos e órgãos, porém não se sabe se serão capazes de gerar todos os tecidos.

Todas estas propriedades fazem das células estaminais importantes instrumentos utilizados no tratamento de doenças, tais como acidentes vasculares cerebrais, diabetes, cancro, doenças cardíacas e paralisia. Destacam-se, neste campo, as células estaminais embrionárias, uma vez que se multiplicam consideravelmente e se podem diferenciar em todas as células e tecidos do organismo.

Contudo, existem barreiras éticas e políticas à utilização destas células, pelo que os cientistas estão à procura de novas fontes deste tipo de células humanas. Uma fonte promissora de células estaminais poderia ser a medula óssea de um adulto. As células estaminais da medula óssea dos adultos produzem normalmente glóbulos vermelhos e células da medula óssea.

Até há pouco tempo, os cientistas pensavam que era impossível estas células da medula óssea “voltarem atrás no tempo” e reinventarem-se a elas próprias para produzirem tipos de células completamente diferentes como, por exemplo, células do cérebro, células nervosas, do intestino ou da pele. No entanto, nos Estados Unidos, os cientistas identificaram, recentemente, uma célula estaminal da medula óssea de adultos que pensam poder desenvolver-se noutro tipo de células.

Uma outra fonte de células estaminais é o sangue do cordão umbilical, que normalmente é eliminado no parto. A particularidade da recolha destas células através do cordão umbilical é que, para além de não causar qualquer problema para o bebé, não existe a possibilidade deste rejeitar estas células, caso seja necessário combater alguma doença.

A utilização das células estaminais para a cura de numerosas doenças emerge como uma nova estratégia terapêutica, um caminho que se prevê longo e tortuoso, porém promissor.

Por: António Costa

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