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CEI mostra cinema ibero-americano

Palestras e filmes na Mediateca VIII Centenário, na Guarda, durante a próxima semana

O Centro de Estudos Ibéricos (CEI) e a Fundação do Novo Cinema Latino-Americano promovem na próxima semana na Guarda um Ciclo de Cinema Ibero-Americano. A primeira edição instala-se na Mediateca VIII Centenário com duas palestras, um documentário, várias curtas-metragens e três filmes paradigmáticos da cinematografia de Cuba, Colômbia e México. Um programa curto mas suficiente para o público guardense descobrir um cinema de grande valor artístico, fortemente influenciado pelos condicionalismos políticos e sociais daqueles países. Particularidades devidamente contextualizadas pelas intervenções dos realizadores Humberto Solás e Octavio Getino.

O objectivo desta mostra é levantar um pouco o véu sobre uma cinematografia pouco conhecida e divulgada na Europa e em Portugal em particular. A viagem para o universo latino-americano começa segunda-feira à noite com a inauguração da mostra pela directora-geral da Fundação do Novo Cinema Latino-Americano, Alquimia Peña, um organismo criado em 1985 em La Havana e presidido pelo escritor Gabriel García Marquez. Segue-se a palestra de Humberto Solás, famoso realizador cubano e director do Festival de Cine Pobre, sobre as experiências de reconhecidos cineastas latino-americanos, que antecede a exibição de um dos seus filmes mais recentes “Miel para Oshun” (2001). Com uma forte referência ao caso Elián – o pequeno rapaz disputado em 2000 pelos governos de Cuba e Estados Unidos -, esta produção aborda as diferenças existentes entre os cubanos exilados na América e os habitantes da ilha de Fidel a partir do regresso de um deles 30 anos depois de ter sido levado pelo pai para a terra do “Tio Sam”. Um reencontro que põe fim a muitas ideias preconcebidas. Este filme tem ainda a particularidade histórica de ter sido o primeiro a ser inteiramente rodado em Cuba com tecnologia digital.

A segunda sessão do ciclo, agendada para dia 21, começa com Octavio Getino, realizador de cinema e televisão argentino e director da área de Industrias Culturais da Fundação CICCUS – Centro de Integração, Comunicação, Cultura e Sociedade, que vai falar do “Cinema Latino-Americano e Caribenho Actual e o Espaço Audiovisual da Região”. Uma intervenção que antecede a projecção de “Edipo Alcalde”, do colombiano Jorge Alí Triana. Realizado em 1996, retrata o clima de violência generalizada numa pequena localidade da cordilheira andina e os esforços do autarca local para estabelecer o diálogo entre a guerrilha, os paramilitares, os grupos de autodefesa dos camponeses, os narcotraficantes e a população. É uma adaptação muito bem conseguida do mito de Édipo à realidade latino-americana, com guião de Gabriel García Marquez, e que integrou a selecção oficial do Festival de Cannes desse ano. Finalmente, no dia 23 é exibido um documentário sobre o novo cinema latino-americano e uma mostra de curtas-metragens da Escola Internacional de Cinema e Televisão de Cuba. O ciclo é rematado com outra produção emblemática da filmografia mexicana contemporânea. “La Reina de La Noche” (1994), de Arturo Ripstein, é uma crítica feroz e negra à sociedade mexicana, do género da praticada por Luis Buñuel, de que foi assistente. O filme baseia-se no destino trágico de Lucha Reyes, considerada a maior cantora popular de sempre daquele país.

Luis Martins

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