A Casa de Santa Isabel, em S. Romão, está a realizar, desde a semana passada, um abaixo-assinado de protesto contra a possibilidade do traçado da segunda fase da variante de Seia poder vir a atravessar a Quinta do Formigo, onde está instalada. Se a nova via de ligação entre a EN 231 e a ER 339 (estrada da Serra) nascer nas proximidades do Intermarché, como já foi anunciado, «tudo indica que a quinta será afectada», constata o presidente da direcção, Carlos Páscoa. A acontecer, «é o fim» deste projecto de ajuda a pessoas com deficiência, avisa.
A instituição fica localizada entre os dois pontos de ligação da variante, num terreno com 35 hectares, onde estão seis casas residenciais e uma área que abrange percursos pedestres, bem como explorações de agricultura biológica e de silvicultura sustentável, num ambiente terapêutico que começou a ser criado em 1981. «Estamos a falar de um crime ambiental e de todo um projecto colocado em causa, até porque irá separar os lares residenciais», explica Carlos Páscoa. «Foram definidos os pontos de partida e chegada da estrada sem olhar ao percurso», lamenta. Para além de uma recolha de assinaturas porta-a-porta, a instituição lançou uma petição “on-line” (www.petitiononline.com/formigo), que pretende enviar à Estradas de Portugal (EP) e à Câmara de Seia. Os 85 utentes da Casa de Santa Isabel «são hipersensíveis e nem sequer suportarão o transtorno da construção e das máquinas», alerta este responsável, que espera que surjam alternativas que não impliquem a passagem pela quinta terapêutica.
A instituição «é uma das maiores empregadoras do concelho», com 53 trabalhadores nos quadros, e o fim do projecto social implicaria também «a destruição dos postos de trabalho», refere ainda, avisando que o caso será denunciado no Parlamento Europeu se a variante incluir os terrenos da Casa de Santa Isabel. A instituição já fez chegar as suas preocupações à EP, cujos técnicos já se deslocaram ao local, mas «não deixaram quaisquer garantias» de que a propriedade será poupada, refere Carlos Páscoa. O responsável estima que esta entidade tenha as propostas de traçado concluídas dentro de um mês, com o documento a seguir depois para a Câmara, à qual compete fazer as expropriações. Nessa altura, este responsável espera ter «já muitas assinaturas», pois «há uma mobilização muito grande a nível nacional e internacional».
Também o presidente da autarquia se deslocou à Quinta do Formigo recentemente. Carlos Páscoa espera que Filipe Camelo «esteja ao lado da Casa de Santa Isabel» neste processo, visto que a Câmara tem vindo ao longo dos anos a atribuir prémios de mérito à instituição e «seria um contra-senso deixar que seja destruída». Confrontado com estes receios, o edil considerou que a situação «é preocupante», mas lembrou que «ainda não há qualquer traçado definido». Na sua opinião, mesmo que os dois pontos de ligação se mantenham, nada indica que a via tenha de passar obrigatoriamente pela Quinta do Formigo: «Não temos quaisquer elementos que nos possam dizer isso, se passará ali ou mais abaixo», afirmou. «É evidente que não sou indiferente às questões colocadas pela Casa de Santa Isabel», acrescentou o edil, garantindo que «nada será resolvido sem uma discussão ampla» na sociedade e entre as partes interessadas, num processo que «exige ponderação». Para Filipe Camelo, a segunda fase da variante «é uma obra extremamente necessária» para resolver problemas do tráfego automóvel em Seia, pelo que «é preciso encontrar as melhores soluções».
A missão da Casa de Santa Isabel
O objectivo da Casa de Santa Isabel é instruir e preparar os cidadãos com necessidades especiais, procurando desenvolver as suas capacidades, nomeadamente através de oficinas de diversas áreas profissionais, para a sua integração na vida activa. Na instituição, fundada em 1981, alunos e colaboradores vivem numa verdadeira comunidade terapêutica. Integrada no movimento internacional de pedagogia curativa e socioterapia, a Casa de Santa Isabel realiza um trabalho constante e dinâmico orientado pelos princípios antroposóficos que procuram educar o ser humano no seu total. Nesse sentido é possível a renovação pessoal e social, através da partilha de tarefas e experiências, possibilitando o reconhecimento do pleno potencial de cada indivíduo e promovendo tanto a independência como a interdependência. Tudo isto em contacto saudável e indispensável com a natureza envolvente.