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Carlos Pinto vai remeter decisões de Vítor Pereira para o Ministério Público

Antigo presidente da Câmara da Covilhã enviou “carta aberta” à população e garante que não pensa em ser candidato em 2017

«Acho que o presidente da Câmara está profundamente desorientado. Espero que possa ter conselheiros que o ajudem a perceber que um presidente, quando se senta naquele lugar, é para promover desenvolvimento e não para perseguir pessoas», afirmou Carlos Pinto na última sexta-feira durante uma conferência de imprensa, aberta à população, onde apresentou uma “carta aberta aos covilhanenses” sobre o relatório da auditoria tornado público recentemente.

O ex-presidente do município anunciou que vai remeter várias decisões tomadas pelo atual executivo para o Ministério Público e que não pensa em voltar a candidatar-se à autarquia que liderou durante 20 anos. Durante mais de duas horas, Carlos Pinto abordou perante cerca de cem pessoas as 44 páginas da sua “carta aberta” que já chegou à caixa de correio dos covilhanenses. No documento, o ex-autarca deixa um “conselho” ao seu sucessor: «Tenha juízo, pare de envergonhar os covilhanenses com estas atitudes, respeite o cargo que lhe conferiram e governe a Câmara, se for capaz, com as realidades e as circunstâncias da vida. Se não for capaz, demita-se que o ambiente político na cidade fica mais higienizado e a Covilhã terá melhor futuro que este presente», sustentou o antigo edil.

No mesmo tom, Carlos Pinto aconselhou o seu sucessor para que «não insista em remoques e ameaças ao anterior presidente de Câmara, porque ele não teme “palhaçadas à Vítor Pereira” e o considera simplesmente um vulgar charlatão político sem credibilidade». O antigo presidente não “perdoa” ao atual a divulgação de um documento sobre os números da auditoria que, de acordo com a autarquia, revelaram um passivo de 142 milhões de euros, números que Carlos Pinto desmente: «Dizem que se cada munícipe fosse chamado a pagar o montante em dívida teria de desembolsar 1.270 euros. Eu peguei neste número e multipliquei pelo número de habitantes para ver se dava os tais 140 milhões. Onde é que eu vou cair? Nos 65 milhões, isto é uma palhaçada», criticou. Na apresentação em “PowerPoint” de Carlos Pinto apareceram várias vezes imagens do «injurioso panfleto do presidente da Câmara», enquanto o ex-autarca ironizou que «o que lá é escrito justificava que eu já tivesse sido chamado ao tribunal», mas até agora «zero», portanto «serviu» apenas para «me atingir, mas eu até já disse que, como candidato à Câmara, ponto final, parágrafo».

Questionado por O INTERIOR se excluía definitivamente a hipótese de ser candidato em 2017, o ex-autarca respondeu: «Eu acabei 20 anos de mandato há um ano. Se o PS pensa que com estas provocações está a desgastar alguém que pode ser candidato está a atirar ao alvo errado, basta ver o meu Bilhete de Identidade». Contudo, minutos antes, tinha questionado se «alguém em Portugal pode fazer planos a mais de 15 dias ou três semanas, quanto mais quatro anos e então na política…». Quanto à auditoria, Carlos Pinto acusou Vítor Pereira de ter em sua posse o relatório desde 10 de abril e de só o ter divulgado nas vésperas do Dia da Cidade: «Andou a magicar seis meses como tornar público o documento, como criar alarme e fazer de um documento que devia ser de trabalho, uma arma de arremesso, entremeando este período com declarações e ameaças públicas contra o anterior presidente de Câmara», lamentou.

O antigo edil sustenta que Vítor Pereira «deve ir ao tribunal justificar questões administrativas, não as questões morais porque não me sinto sequer atingido» e que está «a destruir o que tanto custou a erguer», assegurando que «há factos que irão ser expostos e documentados às entidades competentes de tutela inspetiva das autarquias e também ao Ministério Público, para análise de cada uma das situações».

Entre os diversos casos que Carlos Pinto quer ver investigados estão a celebração de um contrato de avença, «por ajuste direto», com a sociedade de advogados Gonçalves & Mendes no valor de 66.420 euros, por 12 meses; o processo relacionado com os terrenos no Canhoso de familiares do presidente da Assembleia Municipal, Santos Silva; a indemnização «”amigável”» ao consórcio Constrope/Gigabeira no valor de 90 mil euros ou a celebração de um contrato com um designer, filho da ex-vereadora Graça Sardinha, para a prestação de serviços durante quatro anos por 75 mil euros.

Vítor Pereira não comenta «festas da noite de “Halloween” com zombies políticos»

Confrontado com as declarações de Carlos Pinto, Vítor Pereira considerou que o presidente da Câmara da Covilhã «não pode nem deve comentar festas da noite de “Halloween” com zombies políticos em pano de fundo». À Rádio Cova da Beira, o edil garantiu estar «preocupado com os reais problemas da Covilhã, desde logo com a criação de condições de exequibilidade do orçamento para 2015 e a esse tipo de manifestações eu respondo com trabalho, realismo e verdade e é assim que irei proceder até ao último dia do meu mandato».

A «amnésia» de José Sócrates no Dia da Cidade

Outro dos “alvos” de Carlos Pinto na sessão realizada no pavilhão da ANIL foi José Sócrates que, a 20 de outubro, dia em que foi agraciado com a medalha de ouro de mérito municipal e a chave da cidade, disse que não tinha sido convidado pelo anterior executivo para ser homenageado.

«Deve haver aí algum equivoco que eu não me recordo desse episódio que estão a relatar. Que eu me lembre, não tenho memória disso, viria com o maior gosto. As homenagens aos políticos são sempre mais grandiosas quando partem até de adversários políticos», disse o antigo primeiro-ministro aos jornalistas. Na sexta-feira, Carlos Pinto mostrou os ofícios enviados nos dias 15 de outubro e 7 de novembro de 2008 e um terceiro em fevereiro de 2009. A resposta chegou «finalmente» a 25 de fevereiro desse ano com o chefe de gabinete do então primeiro-ministro a transmitir que «agradecia o amável convite e a informar que não lhe foi possível devido a uma sobrecarga de agenda proceder ao agendamento da visita à Covilhã. Portanto a amnésia esteve presente no dia 20 de outubro quer da parte do ex-primeiro ministro, quer da parte do presidente da Câmara».

Ricardo Cordeiro Carlos Pinto teve cerca de uma centena de pessoas a ouvi-lo

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