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Caras sem rosto

Extremo Acidental

Atenção: este texto pode conter informação eventualmente chocante

Caro leitor, o que lhe vou revelar a seguir pode ter um efeito devastador na percepção intersubjectiva da minha personalidade. Provavelmente o leitor imagina-me como um palerminha armado em engraçado que usa a internet para conhecer mulheres. Quando souber o que aqui venho contar, perceberá que está errado e que sou apenas um palerminha armado em engraçado que usa a internet para ver mulheres.

Apesar de estar ciente da modernidade dos leitores, reconheço o potencial de exclusão social que transporta a revelação que este texto encerra. Embora saiba que todas as escolhas heterodoxas sofrem de sanção ao desvio da norma, há opções na vida que se fazem com a consciência – e outras com o cartão de crédito. É que se Bauman afirma que a ambivalência contemporânea produz angústia, já Bernardina não deixa que lhe mexam na chucha.

Portanto, aqui fica a difícil confissão que eu espero ver recebida com a mesma serenidade com que os portugueses recebem as declarações de Mário Soares. Amigos, companheiros, camaradas, perdoai a minha ofensa porque eu não tenho página nem perfil no facebook.

Nos Salmos da Bíblia está escrito, “perdoa todos os meus pecados, considera quantos me desamigaram”. E se é verdade que até o falhado do Pato Donald tem uma página do facebook, pelo contrário, o Presidente da República e o Primeiro-Ministro metem conversa com o povo pela rede social. Se os políticos querem falar comigo, usem as horas de atendimento.

Estar ausente do facebook hoje é pior do que faltar a uma missa na Idade Média ou não ter ido à escola no dia do Portugal – Coreia do Norte em 1966. Eu não critico os milhões de utilizadores do facebook nem o que por lá fazem. O facebook devia ser como um urinol. Há quem não se importe de fazer com os outros a ver e há quem não goste. E quem não gosta, tem o direito de fechar a porta para ninguém lhe ver a chucha.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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