Após quatro anos de espera, a capela de São Pedro de Verona, em Vila Soeiro, no concelho da Guarda, vai ser finalmente classificada como Imóvel de Interesse Público. O processo foi moroso, mas já faltam menos de 30 dias, a partir da publicação do edital, o que aconteceu há alguns dias, para que, caso não haja oposição, o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) envie o processo de classificação para o Ministério da Cultura, cuja decisão será publicada em “Diário da República”. Seja como for, agora não há volta a dar.
O processo de classificação vai obrigar o Estado a responsabilizar-se por toda e qualquer intervenção ou cuidado no imóvel, bem como os custos da sua protecção. Durante as obras de restauro da pequena capela foi descoberto um fresco inédito do século XVI, onde são bem visíveis as cenas retratadas. Tratou-se de um achado importante para a região, mas principalmente para a pacata aldeia que ganhou assim uma nova atracção. Também a História dos frescos em Portugal ganhou um novo contributo, uma vez que são poucos os murais que chegam em boas condições aos nossos dias. A preciosidade mereceu todas as atenções de estudiosos e técnicos e o processo de classificação avançou através do director do Centro de Conservação e Restauro do IPPAR de Viseu, Fernando Ribeiro. Por mera coincidência, Dulce Helena Borges, directora do Museu da Guarda, foi uma das primeiras pessoas a testemunhar o importante achado, que tem estado no “segredo dos deuses”, «meia hora depois da descoberta», lembra-se com exactidão. Na sua opinião, trata-se de uma «perfeita maravilha» em que se podem ver imagens de S. Francisco a receber os estigmas, do calvário e da fuga para o Egipto. O fresco, descoberto ao ser removido o retábulo da capela, encontrava-se fragmentado mas «perfeitamente identificável», assegura Dulce Helena Borges.
Aquela responsável referiu ainda que a descoberta só foi possível graças a uma «boa intervenção» efectuada na altura por recém-licenciados da Escola Superior de Pintura e Restauro «sob a orientação do Sr. Vouga, um grande especialista». Caso contrário, o fresco teria ficado tapado e ocultado para sempre. Por tudo isto, a directora do Museu da Guarda ficou surpreendida e satisfeita com a notícia, porque a classificação do imóvel «é uma mais-valia para o património concelhio e um instrumento de salvaguarda». Dado que há poucos frescos em Portugal, esta descoberta vai potenciar o interesse por Vila Soeiro, também conhecida por “cabo do mundo” devido ao seu isolamento. Assim espera a presidente da Junta de Freguesia, Madalena Costa. «Nós não fazíamos ideia que o processo demorasse tanto tempo, mas não há dúvida que será um passo importante para esta aldeia», exclama a edil. O problema é que a capela tem estado fechada desde que começaram as obras de restauro, há quase quatro anos. Apesar da existência de outra igreja, as pessoas utilizavam aquele pequeno templo para determinadas cerimónias e «já começam a ficar saturadas com a demora», sublinha Madalena Costa. «Há quem prefira rezar ali», garante. Mesmo assim, a presidente da Junta recebeu a notícia com «grande alegria» e acredita que todos os habitantes vão ficar contentes. «Mas a felicidade só será completa quando as obras de restauro estiverem concluídas», considera.
Rota dos Frescos
Depois do lançamento do primeiro CD-Rom e DVD de “Frescos da Beira Interior”, no início de Março, um projecto que foi desenvolvido pelos alunos da Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo Branco, com o apoio da Direcção Regional de Castelo Branco do IPPAR . Poderá surgir a Rota de Pinturas e Frescos da Guarda e Castelo Branco que há muito foi anunciada. A ideia continua no papel, mas segundo José Afonso, director da delegação do IPPAR de Castelo Branco, «estão a ser estudadas formas de lançar a rota», e o CD e DVD será a base da criação do circuito. Porém, «há problemas», ressalva o director, «é que alguns desses frescos não podem ser vistos», por estarem em locais inacessíveis ou por outros motivos. Nesses casos «a ideia é criar réplicas», para que o público em geral possa apreciar todos as pinturas murais, adianta José Afonso. De resto, acredita que no próximo ano já esteja disponível, até porque «não implica grandes verbas», constata. Assim sendo São Pedro de Verona, Naves e Aldeia Velha, no distrito da Guarda, bem como a Sé de Castelo Branco e a Egitania de Idanha-a-Nova, são alguns dos pontos que farão parte da Rota de Pinturas e de Frescos que se encontra a ser idealizada por «estudiosos» ligados à conservação e ao restauro, conta José Afonso.
Patrícia Correia