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Capela da Nossa Senhora das Vitórias renovada

Fim das obras de recuperação das pinturas do século XVII foi assinalado com música de Bach e Chopin

“Vale do Mondego. Muitas quintas, algumas solarengas. Merece ver-se particularmente na Faia, a formosa Quinta da Ponte, com os seus velhos tanques e jardins”, escreveu Alexandre Herculano. Mas aquele vasto complexo turístico tem outras riquezas, entre as quais a sua capela, reaberta na passada sexta-feira após obras de recuperação das pinturas murais. Para comemorar o final dos trabalhos, a proprietária preparou uma festa para familiares e amigos mais próximos, uma plateia brindada com um concerto de música clássica na capela da Nossa Senhora das Vitórias. Interpretadas por Miguel Ivo Cruz (violoncelo) e o filho (piano), as melodias de Bach e Chopin deliciaram os apreciadores e enfeitiçaram os restantes.

«Estou muito contente por realizar algo que julguei nunca alcançar. Houve uma série de acontecimentos que possibilitaram chegar aqui», confessa Maria Joaquina Trigueiros Sousa Alvim, dona da quinta, herdada do seu pai. A propriedade pertence à família «há muitas gerações», esclarece. Num cenário bucólico, entre os rochedos da serra e o verde do vale do Mondego, está a Quinta da Ponte, na Faia. Trata-se de um solar do séc. XVII adaptado actualmente ao turismo de habitação. Em 1725 a propriedade sofreu algumas obras de ampliação, realizadas por um arquitecto francês, que «importou e adaptou um estilo novo à casa», refere Maria Joaquina Sousa Alvim. Hoje, esta unidade turística resulta da adaptação do solar e do reaproveitamento dos jardins e dos espaços verdes para a implantação de um conjunto de apartamentos e outras infraestruturas. Trata-se de um projecto com dimensão turística, ambiental e agora também cultural. «Esta propriedade sempre teve uma vocação ligada à arte, tanto que as pinturas da capela fizeram sucesso naquela época», acrescenta a proprietária, dizendo que foram realizadas por um artista francês e que, por vezes, ainda aparecem algumas cópias muito semelhantes em revistas francesas. A recente intervenção durou quatro meses e foi apoiada por fundos comunitários.

Há muito que os familiares pediam um piano para a quinta, dado que o genro e o neto são músicos, mas só agora se proporcionou aquele concerto único. «A capela tem uma acústica muito especial», salienta a empresária, recordando uma situação peculiar ali ocorrida. Há uns meses atrás, um músico americano veio gravar um disco durante quinze dias, porém «os primeiros dias não correram nada bem», conta. Os ruídos que apareciam nas gravações não eram mais que os pássaros da quinta: «Vinham para ali cantar quando escutavam a música», garante. Em alternativa, o compositor foi obrigado a gravar só à noite. «Este projecto turístico é um dos mais atractivos da região», diz Jorge Patrão, presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE), para quem o vale do Mondego devia ser «mais valorizado». Seguindo este exemplo, defende a necessidade de mais unidades «com esta tipologia e qualidade» para modificar a imagem da Serra da Estrela. Por tudo isto, considera a Quinta da Ponte uma «autêntica sala de visita». E aproveita a oportunidade para deixar algumas recomendações: «Os actores que investem no turismo deviam criar parcerias, aproveitando os recursos de cada um, o que também seria favorável para o visitante», refere o presidente da RTSE.

Patrícia Correia

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