Três cantinas sociais da Guarda já atingiram o seu limite diário de refeições, pelo que os carenciados que ainda não se inscreveram neste programa dificilmente o conseguirão fazer. São quatro as instituições do concelho que fornecem almoço ou jantar aos mais desfavorecidos, no âmbito do Programa de Emergência Alimentar desenvolvido pela Segurança Social. Atualmente, na Guarda está estabelecido como máximo 65 refeições por organismo, mas esse número poderá subir para 80 devido à procura.
O Grupo Desportivo e Recreativo das Lameirinhas (GDRL) é uma das instituições que confeciona refeições para os carenciados, que são já 60 e se deslocam às instalações da coletividade para levantar o respetivo almoço. A lista de espera tem vários nomes mas, nas condições atuais, o Grupo não responderá a todas: «Se não houver alargamento estamos limitados. A decisão final é da Segurança Social, mas penso que, na conjuntura atual, essa hipótese vai ter de ser repensada», afirma Alberto Capelo Marques, presidente da direção. Já o Centro de Formação Assistência e Desenvolvimento (CFAD), que também fornece o almoço, não aceita ninguém desde outubro, altura em que se atingiu o limite das 65 pessoas. Contudo, o aumento é encarado com algumas reservas: «Não sabemos até que ponto teremos capacidade para mais. Pode ter de se alterar equipamentos e incluir mais recursos humanos», indica Normélia Bartolo, administradora do CFAD.
Também a Casa da Criança está sem vagas disponíveis, mas aqui por questões técnicas. Isto porque a instituição não tem capacidade para servir mais do que 30 carenciados ao jantar, situação que «esperamos resolver em breve», afirma a diretora Dina Varandas, acrescentando que «havia duas ou três pessoas em lista de espera, mas entretanto foram integradas noutros espaços». O público-alvo deste projeto, que conta com 31 cantinas sociais na região, são os agregados familiares em situação de carência, isto é, que no conjunto dos seus rendimentos se consideram em dificuldades económicas. Nas Lameirinhas, a análise é pedida à Segurança Social: «Em função da sua base de dados, temos conhecimento do rendimento da família, o que nos permite identificar se têm direito à refeição», adianta Alberto Capelo Marques.
Por sua vez, no CFAD «quem encaminha é a Segurança Social, a Câmara e outras entidades parceiras, pelo que a análise já vem feita. Mas nós também fazemos a nossa avaliação e pedimos toda a informação», ressalva Normélia Bartolo. Os almoços nesta IPSS são servidos sobretudo a «jovens em início de carreira e desempregados de longa duração», refere a administradora. O processo da Casa da Criança é distinto, uma vez que «as pessoas são conhecidas, pois a avaliação é interna», declara Dina Varandas. A Segurança Social contribui com 2,5 euros por refeição, sendo que a colaboração do utente pode chegar a 1 euro. No GDRL, o máximo são 60 cêntimos: «As pessoas pagam uma média de 30 cêntimos, mas esse retorno é “falso”, porque, por questões de higiene, compramos a base onde servimos o alimento, o que acaba por reter esse custo», salienta o presidente da coletividade.
Para este responsável, a ação é importante pois «vem aligeirar uma situação precária que já existia ou se criou com a atual crise». Há mesmo casos extremos de pessoas que, anteriormente com vidas estáveis, estão agora dependentes desta ajuda. E nem todas recorrem a esta assistência: «Alguns tinham bons rendimentos, que sofreram uma descida drástica, pelo que precisam deste auxílio mas têm vergonha ou sentem-se inibidos. Houve dois ou três casos que nos chegaram de pessoas que estariam a precisar, só que quando foram contactadas percebeu-se essa defesa», adianta Alberto Capelo Marques. Até ao fecho desta edição não foi possível obter os dados da Santa Casa da Misericórdia da Guarda.
Sara Quelhas