Quase todos usam a mesma desculpa: «não conhecia essa planta, não sabia que era cannabis». Muitos são apanhados em flagrante delito, a regar uma plantação que carece de água assim que o calor aperta, sobretudo em lugares isolados. O distrito da Guarda não é exceção. Desde o final de julho, o comando territorial da GNR já fez seis apreensões em localidades como Maçainhas, Melo ou Vilar Formoso.
De acordo com o capitão Cura Marques, as recentes detenções espelham um número maior do que o ano passado, mas não significam necessariamente um aumento das plantações, do consumo ou do tráfico. «Há sobretudo duas razões que explicam esta situação: a época é propícia para a cultivação da planta e as pessoas deslocam-se mais vezes aos terrenos para regrar. Além disso, houve um maior esforço dos militares na investigação deste crime», explica o chefe de serviço, em substituição, da Secção de Recursos Humanos e Justiça da GNR da Guarda. Sempre que se apercebem que um tipo de infração está a aumentar, os militares redobram a atenção. No caso da cannabis – a planta que serve de “matéria-prima” para produzir drogas como o haxixe – , o comando já sabe que sempre que o verão chega é preciso estar atento aos sinais: «normalmente, apercebemo-nos de pessoas que não costumam trabalhar na agricultura e que, de repente, começam a passar muito tempo nos terrenos, a regar, porque a planta precisa de água todos os dias», esclarece o capitão. Cura Marques admite mesmo que este é um dos fatores que permite à GNR «apanhar os suspeitos em flagrante delito». Quando o encontro imediato se dá entre a autoridade e quem cultiva, a desculpa surge pronta, mas pouco original. «Dizem-nos sempre que não conheciam, que não sabiam o que era. É óbvio que tentamos não ligar a isso. Penso que só me lembro de uma situação em que uma senhora idosa de 70 anos tinha apenas um pouco da planta num vaso e aí acreditámos», lembra.
Plantam mais para consumo
Uma das maiores apreensões do ano fez-se na pequena vila de Melo, em Gouveia, na semana passada. 29 plantas com 1,50 metros de altura pertenciam – ao que tudo indica – a uma mulher de 48 anos de idade, artista e fotógrafa, a residir naquela localidade. Já em Maçainhas, ao longo deste mês, os militares encontraram três plantações: uma com 32 plantas, outra com 10 e uma com 7. Gonçalo, Vilar Formoso e Sabugal foram outras localidades onde GNR e PJ (no último caso) aturaram. Segundo Cura Marques, a maioria das pessoas detidas por este tipo de crime, na região, não se dedica à revenda. «É sobretudo para consumo do próprio e de um número restrito de amigos», afirma. O responsável coloca assim, de lado, a ideia de que a crise pudesse estar a contribuir para um aumento das plantações, já que são muitos os que se veem sem emprego nem alternativas. «Por enquanto essa realidade não se verifica nestas apreensões, mas poderá começar a existir esse fenómeno, porque o dinheiro não abunda e podem começar a plantar para vender», admite.
Catarina Pinto