Já falta pouco para que a candidatura do Geopark Estrela a património da UNESCO seja submetida. Por agora, a Assoicação Geopark Estrela, liderada pelo IPG, está a ultimar o processo, que em breve passará por uma fase de apreciação pelo Fórum Português de Geoparques. Só depois haverá uma entrega formal do dossiê à Comissão Nacional da UNESCO, que, caso o aprove, será finalmente entregue à UNESCO e passará a ser uma candidatura do Governo português.
A Serra da Estrela «reúne condições suficientes para receber esta classificação», tendo-se iniciado os trabalhos em 2014, mas trata-se de um «processo moroso e complexo, com muitas exigências da UNESCO», recorda Emanuel de Castro, coordenador executivo da Associação Geopark Estrela. Uma das exigências é que «haja realmente trabalho efetivo no terreno como geoparque, mesmo ainda antes de o ser». Assim, o primeiro passo foi definir a área a classificar, ficando abrangidos nove municípios (Belmonte, Celorico da Beira, Covilhã, Fornos de Algodres, Gouveia, Guarda, Manteigas, Oliveira do Hospital, Seia), num total de 2.300 quilómetros quadrados, que não só são em torno da serra, como «reúnem características geológicas, geomorfológicas e culturais, daquilo que é a Estrela». Foi criada também uma parceria com a Universidade da Beira Interior e, em maio de 2016, passou a existir a Associação Geopark Estrela, que ficou responsável pela promoção da candidatura, toda a gestão da estratégica e trabalho com a UNESCO, sendo também um elo de ligação entre os parceiros.
A ser conseguida esta chancela, que classifica territórios com um elevado património geológico, passa também a existir «uma estratégia de desenvolvimento territorial, feita com e para as pessoas», destaca Emanuel de Castro. Com a marca da UNESCO existem atualmente mais de cem geoparques espalhados por 34 países, normalmente em territórios de baixa densidade, e esta é «uma oportunidade para abrir novas portas de desenvolvimento, pois não estamos a classificar um sítio mas um território, que fará parte de uma estratégia e será estudada a forma como o podemos trabalhar». Embora o território abrangido seja extenso, a equipa «é bastante reduzida». São apenas sete elementos, dos quais dois não estão a tempo inteiro. Desde que deitaram “mãos à obra” tem sido «desenvolvido um trabalho de agregação de diferentes sinergias, em rede, com associações, empresas e grupos de ação local», procurando abranger vários campos de acção: ciência e educação, turismo, desenvolvimento local, paisagem e território, refere o responsável.
A classificação ainda não é garantida, mas Emanuel de Castro acredita que estão no «bom caminho». No entanto, este trabalho «implica custos significativos, pois propomos a classificação de 150 locais de interesse geológico e existe um trabalho de levantamento e caracterização», sendo os principais financiadores os próprios municípios que são também «os primeiros beneficiados». A associação recorre ainda a programas de financiamento que possam surgir. Por ano são gastas «algumas centenas de milhares de euros» e mesmo após o processo de candidatura os municípios «serão sempre parte integrante e ativa, com repercussão direta e indireta». Só no final de 2018, início de 2019, deverá ser tomada uma decisão da UNESCO, mas até lá «o trabalho mantém-se. Assumimos um compromisso e há projetos que serão implementadas no próximo ano, os peritos vão estar atentos a isso». Depois, será necessário apresentar de quatro em quatro anos relatórios à UNESCO, que faz um acompanhamento permanente.
«Trabalho de gerações»
A associação tem organizado desde janeiro e até setembro as Conferências da Estrela, género de assembleias populares, com o objectivo de «fazer chegar à população o conceito de geoparque, explicar o que é e quais as vantagens». Segundo o responsável, «quanto mais pessoas tiverem conhecimento deste conceito, será mais fácil de deixarmos de ser um território repulsivo para ser atrativo», no entanto, trata-se de processo longo, «é difícil chegar a toda gente e ainda existimos há pouco tempo, pelo que é natural que muitos ainda não conheçam». Este «é um trabalho de gerações, que tem de ser feito de uma forma sólida e consistente e que não se consegue num ano». De forma a chegar a mais gente a associação tem realizado outras atividades, como caminhadas, e sessões educativas.
Serra da Estrela, um destino de férias doze meses por ano
Cada vez mais a montanha mais alta de Portugal Continental deixa de ser olhada como apenas e só um destino de férias de Inverno. Hoje, a Serra da Estrela recebe turistas ao longo dos 12 meses do ano.
Se a candidatura do Geopark Estrela a Património da UNESCO for aprovada, pode ser dado um passo de gigante para esta região integrar a rota dos principais destinos de férias para turistas nacionais e estrangeiros. A chancela da UNESCO «permite outra projeção», assume Emanuel de Castro. Com características ecológicas e ambientais diferentes de outras zonas do país, a Serra da Estrela tem «um património cultural, geológico, biológico e uma paisagem que se destaca das restantes», que será mais facilmente incluído em pacotes turísticos.
«Aqui há muito mais que neve e durante todo o anos», sublinha o responsável, exemplificando com o turismo de saúde e bem-estar, educativo, de natureza, desportivo. «É uma matéria-prima que não se esgota», refere Emanuel de Castro, acrescentando que esta oferta é reforçada pela gastronomia, o património natural, cultural e histórico dos diversos concelhos à volta da serra.
Ana Eugénia Inácio