Pois é!… Durante muitos anos, os políticos, os gestores públicos, alguns serviços públicos, muitas fundações e não sei quantos senhores (…), forjados nas elites neoliberais de cariz extravagante e selvagem, pensaram que o povo estava amordaçado e totalmente submetido a esta nova forma de escravidão, que é trabalhar a vida inteira para pagar a grandeza e o sucesso dos seus pseudo-defensores e pseudo-representantes. Exploraram com juros, encargos, taxas e espoliações selvagens sem qualquer controlo, comedimento ou sensatez.
Agora tentam dar uma volta de parafuso sobre si mesmos, mas não conseguem encolher as suas grandes barrigas, nem esconder as bocas escancaradas de espanto ao verificarem que, afinal, o povo deste mundo que quiseram fazer global, não estava tão dominado e submisso como pensavam.
Estão à espera que os povos (grego, português, italiano e outros) aceitem os juros corruptos, usurários e ilegais que lhe querem impor, com o argumento de que lhe estão a prestar necessária ajuda. Mas que ajuda é esta se aquilo que se paga é várias vezes mais do que aquilo que recebeu.
O governo português está a pensar fazer várias reformas, nomeadamente a das autarquias locais.
Pois que faça a reforma do próprio sistema de modo a que não possa haver candidatos a qualquer lugar político sem que apresentem um programa eleitoral para o período do mandato. Obriguem-se os candidatos ou as candidaturas a registar esse programa e responsabilize-se o candidato ou a candidatura pelo seu programa perante os eleitores e permita-se a estes, sem emaranhadas burocracias, a destituição dos candidatos incumpridores, seja qual for o nível da sua atuação.
Responsabilizem-se os políticos pela sua má gestão e pelos prejuízos causados aos cidadãos e à comunidade. De igual modo, louvem-se publicamente os que o merecerem. Deixem que as instituições da sociedade civil e as organizações promovidas por cidadãos tenham uma intervenção efetiva no governo da sociedade. Pensem em levar a cabo reformas que sejam portadoras de mudança em que os velhos erros sejam corrigidos e em que os velhos hábitos de mandar sejam substituídos por novos caminhos em que se dê lugar à democracia participativa em parceria real com a democracia representativa.
Olhem que o mundo mudou mesmo!.. E só a boa vontade, a reta atitude, a primazia da honestidade intelectual, o respeito pelo próximo, a valorização da memória e o primado da cultura poderão apontar os percursos de um futuro de dignidade para o cidadão comum, que afinal somos todos, mesmo que alguns pensem que estão para além disso.
José Quelhas Gaspar, carta recebida por email