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Câmara da Guarda planta árvores onde antes cortou cedros

Joaquim Carreira diz que intervenção na Avenida Cidade de Salamanca foi «um disparate, um ato injustificado e até criminoso», Álvaro Amaro considera que «longe vão os tempos em que não se podia mexer na paisagem»

Passados mais de quinze dias sobre o corte de 40 cedros na Avenida Cidade de Salamanca, a Câmara da Guarda vai plantar árvores no mesmo local na segunda-feira, por ocasião do Dia Mundial da Árvore.

A medida, incluída no plano de arborização da cidade, foi anunciada por Álvaro Amaro no final da reunião do executivo da passada segunda-feira. E o presidente vai convidar os guardenses a participar nesta «plantação comunitária e simbólica». Foi a primeira vez que o autarca falou do assunto – estava em Bruxelas quando se iniciou o polemico abate de árvores naquela avenida – e não foi brando. «A providência cautelar [da Quercus] é juridicamente inútil porque projeto está concluído, não veio alterar nada do que estava programado», começou por dizer. Aos jornalistas, o edil sublinhou depois que «não mandamos abater árvores porque acordámos mal dispostos» e recordou que houve um estudo que concluía que, «por razões fitopatológicas e urbanísticas», seria necessário proceder à substituição de várias árvores naquela artéria da cidade.

«Foi o que fizemos», disse Álvaro Amaro, admitindo, contudo, que a autarquia «não terá estado muito bem no início [quando informava no seu site que a intervenção decorria segundo o estudo da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro]». Na sua opinião, os contestatários «aproveitaram-se dessa confusão e ampliaram ainda mais o caso, mas ninguém nos pode acusar de falta de informação porque esta intervenção foi apresentada numa sessão pública para a qual foram enviados 16 mil convites», acrescentou. «Os guardenses elegeram-me para decidir, foi o que fizemos de forma pensada, projetada e discutida», afirmou o presidente, para quem «longe vão os tempos em que não se devia mexer na paisagem, que, para ser fruída, tem que ser gerida».

Álvaro Amaro lembrou que esta intervenção faz parte de um projeto «mais vasto» que contempla a plantação de 2.000 árvores na cidade até 2017 e também a requalificação do parque municipal. O caso do abate dos cedros foi abordado no período de antes da ordem do dia, com o vereador socialista a considerar que houve «algum abuso de autoridade» e que o corte foi «um disparate, um ato injustificado e até criminoso porque as árvores não estavam doentes». O eleito da oposição acrescentou que tudo não passou de «uma decisão política imposta à população só para dar outra imagem àquela avenida». Dizendo-se «solidário» com os autores da providência cautelar, Joaquim Carreira adiantou aos jornalistas que solicitou à Câmara o estudo do gabinete de arquitetura paisagista contratado. «Desconhecemos esse documento e queremos perceber qual a razão técnica que levou ao abate daqueles cedros, que marcavam, do ponto de vista urbano, aquele acesso à cidade. É um património que se perdeu», declarou o vereador.

Unanimidade em 19 dos 20 pontos da ordem de trabalhos

Nesta sessão, o executivo aprovou por unanimidade 19 dos 20 pontos da ordem de trabalhos.

O PS absteve-se apenas na aprovação das minutas do empréstimo de médio e longo prazo para a liquidação antecipada dos empréstimos de saneamento financeiro e PAEL – assunto sobre o qual sempre se absteve por considerar que é um «ato de gestão» da maioria. O mesmo já não aconteceu com três aquisições de serviços, por ajuste direto, para a próxima edição da Feira Ibérica de Turismo (FIT), de 5 a 8 de maio, e que vão custar mais de 271 mil euros, IVA incluído. A autarquia vai gastar 74.500 euros na organização, logística e implementação de estruturas para a FIT, mais 74 mil euros no aluguer de equipamentos de som e luz, vídeo e serviços multimédia e 72.200 euros na promoção, comunicação e animação do evento.

Os socialistas votaram a favor mas apresentaram uma declaração de voto para dizer que «é importante toda a atividade que promova e projete a cidade e o concelho», embora considerem que a FIT «tem pouco de turismo e muito mais de atividades avulso, além de não vermos a mais-valia para o concelho», disse Joaquim Carreira. Na resposta, Álvaro Amaro realçou a mudança de atitude dos eleitos da oposição. «O PS já evoluiu ao votar a favor. Mais dois anos e está a bater palmas a esta organização», ironizou o presidente. No final, o edil revelou aos jornalistas que é intenção do município realizar um «grande evento de moda» na Guarda em julho, isto a propósito do «sucesso» do cobertor de papa na passerelle do Moda Lisboa no último sábado.

Luis Martins

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