Um euro bastou para um particular, cuja identidade ainda não foi revelada, comprar o campo de futebol do Mileu Guarda Sport Clube na passada quarta-feira. Num inesperado volta face, o privado cobriu a proposta da autarquia, que tinha oferecido 40 mil euros, e por 40.001 euros ficou dono do António dos Santos, situado num terreno com 13.300 metros quadrados de área total no parque industrial da cidade e exclusivamente destinado a campo de futebol.
O espaço foi vendido no terceiro leilão online organizado pela Direção de Finanças da Guarda, mas até agora não tinham aparecido comparadores. O campo estava penhorado por dívidas do clube ao fisco, que já eram da ordem dos 117 mil euros. Na quarta-feira, a autarquia tinha tudo preparado para adquirir o campo e, tendo em conta o histórico do processo, não contava muito que houvesse mais interessados. Contudo, o inesperado aconteceu e um privado entrou em liça após o município ter licitado 40.000 euros. Ofereceu mais um euro e isso bastou para colocar a Câmara fora de jogo. Posteriormente, aos jornalistas, Álvaro Amaro anunciou que iria contestar a hasta pública – o que já fez – porque a autarquia apresentou nova proposta, de 50 mil euros, «quando faltavam 30 segundos para terminar a venda» e que não foi validada pelas Finanças.
Na contestação, a que O INTERIOR teve acesso, o município considera que se as Finanças validarem a «proposta que se encontra neste momento em primeiro lugar, caso e por mera hipótese académica não fosse aceite a pretensão do município, (…), estariam a alienar o referido bem para satisfação de interesses privados, apenas pela diferença de um euro, o que prejudica gravemente os interesses do município». De resto, Álvaro Amaro já prometeu ir «até às últimas consequências» porque «nenhuma máquina pode substituir a mente humana». «Surpreendido» e «desiludido» com este desfecho está o presidente da direção do Mileu Guarda. Armindo Maia disse a O INTERIOR que o clube ainda não foi contactado pelo novo proprietário do campo: «Dizem que é de Pombal, mas oficialmente não sabemos de nada. O que desconfiamos é que não foi para jogar à bola que esse particular comprou o campo», declara o dirigente.
O responsável recorda, no entanto, que o terreno não permite a construção ou outro uso urbanístico. «Não sabemos o que o comprador pretende fazer, mas o Mileu vai utilizar o campo até ao final da época a não ser que nos impeça», afirma Armindo Maia, adiantando que espera que a Câmara «não deixe fugir» o terreno. «A autarquia recorreu da hasta pública e, segundo nos foi dito, se isso não for suficiente a última hipótese é negociar com quem o comprou porque aquilo só dá para a prática desportiva», acrescenta o presidente do Mileu. Recorde-se que o município deliberou na última reunião do executivo adquirir o campo António dos Santos para o disponibilizar para a prática desportiva. Na altura, Álvaro Amaro justificou a decisão com o facto de, atualmente, «a procura por campos de futebol é superior à oferta de espaços disponíveis na Guarda».
Conforme O INTERIOR noticiou, o clube da Póvoa do Mileu, bairro da cidade, foi executado pelo fisco há mais de 15 anos, quando a equipa principal disputou o Nacional da IIIª Divisão e nunca declarou os ordenados dos jogadores. Atualmente a dívida ascende a 116.937 euros e para a liquidar as Finanças colocaram o campo de futebol à venda, inicialmente por 274.570 euros, mas os dois leilões realizados ficaram desertos. Há quinze dias, como divulgou O INTERIOR, tinha sido lançada uma campanha para ajudar o Mileu a comprar campo penhorado pelas Finanças. Na página do Facebook do movimento (www.facebook.com/Vamos-Ajudar-o-Mileu-1500728580222561/?hc_location=ufi) há mensagens onde se estranha o facto da Câmara só ter oferecido «40 mil euros se estavam dispostos a oferecer 50.000». Mas também se pergunta «quem é o comprador mistério?» e se apela à mobilização dos simpatizantes do clube para «não deixar que haja quem ganhe dinheiro à custa do Mileu e do seu campo».
Luis Martins