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Cai a neve e chegam os turistas

Turistas já não vêm à Serra da Estrela apenas por um dia e procuram conhecer outros locais de interesse na região

Assim que os primeiros flocos de neve na Serra da Estrela são notícia nas televisões e jornais, as fotografias são partilhadas centenas de vezes nas redes sociais e começa o correria à subia ao ponto mais alto de Portugal continental. Mas que impacto terá esta afluência na economia da região?

Segundo o responsável do Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social (ODES) da UBI, «esta é uma época de excelência na serra, pois sempre que há um nevão, há bastante impacto no turismo» e, ao contrário do que se verificava há uns anos, «quando tínhamos um turismo de “pé descalço”, hoje, os turistas ficam mais do que um dia e ajudam a economia local». Quando fala em turismo de “pé descalço” José Pires Manso refere-se aos visitantes que chegavam em autocarros, ficavam uma noite e dormiam nos próprios veículos ou em casas particulares, traziam a merenda e gastavam «pouco ou nada» na região. Atualmente, José Pires Manso não vê tantos autocarros subirem à serra e acredita que quem visita a montanha vem para «um turismo de qualidade» e aproveita para ficar mais dias. Com a neve como atrativo, os turistas «sobem à Torre, visitam Belmonte, a judiaria da Guarda ou até fazem a rota das Aldeia Históricas».

Apesar destes atributos, o professor de Economia da UBI considera que ainda falta fazer muito pelo turismo da Serra da Estrela para que seja «uma alavanca económica». Será preciso, nomeadamente, «um esforço de várias entidades e a programação global das potencialidades desta região para que as pessoas que nos vêm visitar fiquem mais tempo e também venha mais gente». No entanto, o investigador considera ao mesmo tempo que «não é desejável que haja uma massificação turística» para que não se regresse ao “turismo pé descalço”, «um turismo fraco e com impacto ambiental negativo». O professor universitário salienta a necessidade de «um turismo com poder de compra, que deixe dinheiro na região e tenha vontade e curiosidade para ficar vários dias porque as propostas não faltam».

Apesar disso ainda não acontecer com mais relevância, o responsável pelo ODES considera que o turismo já tem «muito impacto na região das Beiras e Serra da Estrela», sendo intensificado na época da neve. Foi em busca de uma melhor oferta turística e assim atrair mais visitantes à Serra que a Turistrela investiu este ano na estância de esqui, com melhorias na sustentabilidade, nos canhões e no transporte dos praticantes. O diretor-geral do grupo hoteleiro diz ter «grandes expetativas na aceitação, com um aumento de clientes», não apenas na cadeia hotéis que dirige, mas também noutros grupos, abrangendo toda a região. Para já as «perspetivas são boas», afirma João Paulo Carreira, com os fins-de-semana na época alta (até março) «praticamente cheios» e a Passagem de Ano «já com uma ocupação da ordem dos 70 por cento». O responsável não tem dúvidas que, «com uma oferta melhorada, os números serão muito acima do ano passado». Agora só falta que «a neve venha e que haja temperaturas negativas, se vier ainda em dezembro melhor», sublinha.

No Grupo Natura IMB, Luís Veiga fala numa taxa de ocupação «dentro dos níveis do ano passado», mas com «uma melhoria em termos de procura para o fim de ano». Para o empresário, há um entrave chamado portagens no turismo da Serra da Estrela que espera que o novo Governo reveja: «Só uma mudança nas políticas sociais pode permitir a fixação de pessoas», adianta. Segundo o administrador, falta a «redução de custos e a fixação de pessoas e empresas para que localmente os negócios sejam mais apetecíveis, de outra forma estamos condenados».

Região registou 303.648 hóspedes em 2013

Segundo dados referentes a 2013, divulgados no Anuário Estatístico, do INE, organizados por NUT III, 47.549 hóspedes ficaram alojados nas unidades hoteleiras da Serra da Estrela, 96.228 na Beira Interior Norte e 159.871 na Cova da Beira, com um média de 1,75 , 1,34 e 1,74 noites, respetivamente.

Em termos de dormidas, os concelhos da Serra da Estrela contabilizaram 83.410, a Beira Interior Norte 130.167 e a Cova da Beira 277.911. Segundo o INE, estes números refletiram-se em proveitos de aposento em 1.712 euros na Serra da Estrela, 3.946 na Beira Interior Norte e 8.663 euros na Cova da Beira.

A NUT Serra da Estrela é composta pelos concelhos de Fornos de Algodres, Gouveia e Seia; a Beira Interior Norte por Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Manteigas, Meda, Pinhel, Sabugal e Trancoso e da Cova da Beira fazem parte Belmonte, Covilhã e Fundão. Entretanto, estes quinze concelhos formaram a Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela. Em 2009, o Turismo de Portugal publicou um estudo que confirmava que a principal atração da marca “Serra da Estrela” é a neve, pelo que é no Inverno que as pessoas preferem visitar a região.

Estância abre no sábado com melhorias

É já no sábado que os adeptos dos desportos de Inverno podem praticar na Serra da Estrela. A estância de esqui, explorada pela Turistela, reabre para mais uma época com algumas remodelações, num investimento a rondar os 800 mil euros.

Os telesquis e as telecadeiras foram melhoradas e foi adquirido um novo tapete para a área de iniciação, com cerca de 160 metros de comprimento, o que vai permitir aumentar o número de utilizadores de 150 para 1.200 pessoas. Este Inverno haverá uma nova loja no topo da estância, vai ser criado um “fun park” junto à Torre, com uma área fechada para trenós, insufláveis e “donuts”. Os investimentos passaram também pelos equipamentos de iniciação e vai ser possível ministrar aulas de esqui a crianças a partir dos 3 anos. A Turistrela estima que passem pela estância da Torre 50 mil pessoas até 26 de abril de 2016.

Ana Eugénia Inácio Empresários otimistas para este inverno

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