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“Café Montalto” retrata «grandeza e declínio têxtil» da Covilhã

Romance de Manuel da Silva Ramos será apresentado nos próximos dias no âmbito das comemorações do Dia da Cidade

Integrado nas comemorações dos 133 anos da Cidade da Covilhã, o escritor covilhanense Manuel da Silva Ramos vai apresentar oficialmente, nos próximos dias, o livro “Café Montalto”. Trata-se de um romance de facto-ficção que retrata as «memórias vivas» da Covilhã no período de grandeza e declínio têxtil, isto é, entre os anos 60 até à revolução.

«“Café Montalto” pode ser a continuação e o complemento do excelente romance de Ferreira de Castro “A Lã e a Neve”», sublinha Manuel da Silva Ramos, pois o leitor disporá de uma «visão global da vida social e política da Covilhã nos últimos 50 anos». A acção começa quando, em 2002, um jornalista nascido na Covilhã parte de Lisboa para ir ao enterro do seu pai, que foi um poderoso industrial de lanifícios na “Manchester” portuguesa. «Confrontado com o seu passado familiar e glorioso na cidade nos tempos áureos, descobre o seu amor mais genuíno». É assim que Manuel da Silva Ramos, nascido no Refúgio em 1947, introduz o seu romance, «misturando nomes de pessoas reais com pessoas inventadas por mim», esclarece, para contar a «história» da Covilhã entre 1963 e 1986. «É uma história de amor terrível e intensa, um livro sobre a memória e sobre a felicidade», refere o escritor a “O Interior”, conciliando o «passado com o presente», pois algumas personagens evoluem mais tarde. Com vista a “desenterrar a memória” e glorificar o tempo industrial, a trama desenrola-se por toda a cidade: nas fábricas, ruas e cafés, para retratar «a agitação dos operários contra o fascismo». No fundo, é um «livro crítico»: «Os operários ganhando muito pouco, fazendo greves para combater o patrão e o fascismo, enquanto os patrões viviam bem», nota. Mas sem cair no «erro» de que os patrões são todos maus e os operários bons, avisa.

«No meu livro, há operários bons e maus, patrões bons e maus», garante, recordando que o Café Montalto era então o «espelho ambíguo da cidade». «Entrava [no café] a burguesia, os patrões e os operários não eram admitidos. Mas com o 25 de Abril, os operários tomaram o Montalto, a sua “Bastilha”», relata o escritor. De resto, o livro acaba com o encerramento do café, em 1986. Para Manuel da Silva Ramos, este foi o projecto «mais difícil» em que embarcou, pois além de ter vivido durante 8 meses «como um monge, a trabalhar 12 horas por dia», teve que misturar a sua «memória» com a de outras pessoas. Mas foi também a oportunidade para «relembrar muitos covilhanenses que caíram no esquecimento», como o sr. Lucas, um idoso que fazia teares, o jornalista João Saraiva Curto ou Augusto Lopes Teixeira, «entre outros». Com 350 páginas, o livro está dividido por datas e terá fotografias da época e recentes. Manuel da Silva Ramos recebeu, aos 20 anos, o prémio Novelística Almeida Garrett pelo romance “Os Três Seios de Novélia” (1968). Seguiram-se outras obras, algumas em colaboração com o jornalista João Alfacinha da Silva (Alface), como a trilogia “Tuga”, “Os Lusíadas” (1977), “As Noites Brancas do Papa Negro” (1982), “Beijinhos”, “Viagem com Branco no bolso” e “Jesus – The last adventure of Franz Kafka”.

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