O Cabeço das Fráguas está em vias de ser classificado como património de interesse público, de acordo com uma proposta da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) datada de 16 de julho.
No despacho assinado pela subdiretora daquele serviço, Ana Catarina Sousa invoca a «importância científica e patrimonial» do lugar para iniciar o procedimento administrativo com vista à sua classificação. A decisão ainda não foi publicada em “Diário da República”, pelo que só a partir da sua publicação é que o Cabeço das Fráguas e os bens imóveis localizados na zona geral de proteção (50 metros contados a partir dos seus limites externos) ficam abrangidos pelas disposições legais de salvaguarda em vigor. A proposta de classificação foi apresentada pela arqueóloga Maria João Santos, do Instituto Arqueológico Alemão, que tem vindo a realizar várias campanhas de escavação desde 2006. Numa delas, em 2010, os investigadores, liderados por Thomas Schattner, fizeram um molde em tamanho real da inscrição rupestre em língua lusitana identificada no local, que está acessível ao grande público no Museu da Guarda.
As sucessivas campanhas, realizadas em colaboração com o museu guardense e a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, revelaram peças em bronze e ferro, bem como objetos de cerâmica, que foram descobertos pelos arqueólogos desde 2006 no espaço do antigo santuário que ali existiu entre os finais do século VIII a.C. e o século I da nossa era. Mas o mais importante foi o contributo para explicar o conteúdo da laje com o texto epigráfico que descreve a oferenda de animais a diversas divindades. O Cabeço das Fráguas, situado na fronteira entre os concelhos da Guarda e Sabugal, ganhou notoriedade com a descoberta, em 1943, da inscrição rupestre pelo general João de Almeida, posteriormente publicada e divulgada por Adriano Vasco Rodrigues numa monografia de 1956. Depois de intrigar curiosos e estudiosos, o achado é hoje famoso no meio científico europeu, sendo similar a outro existente na zona de Cáceres (Espanha).
«A inscrição conjuga no mesmo texto o alfabeto latino e a chamada língua lusitana, falada na época pré-romana em praticamente todo o Ocidente hispânico», adiantou na altura o Museu da Guarda. Agora, também a DGPC admite essa importância ao reconhecer «o caráter extraordinário» do local, situado a 1.015 metros de altitude, que fica a dever-se ao facto de «colocar em contexto, num espaço frequentado desde o início do século VIII-VII a.C. até ao final do século I d.C., diversos aspetos da religiosidade indígena que habitualmente se registam apenas de forma isolada». De resto, o pedido de classificação remetido em dezembro de 2011 alerta os responsáveis para a implementação de parques eólicos na freguesia da Benespera (Guarda), cujo «avanço é cada vez mais ameaçador, pelo que se afigura urgente que se dê início ao processo de classificação do conjunto do Cabeço das Fráguas, de modo a encontrar-se uma proteção legal que permita acautelar melhor o sítio e propiciar a preservação e valorização destes excecionais vestígios», lê-se na informação produzida pela delegação de Castelo Branco da Direção Regional de Cultura do Centro.
Luis Martins
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