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Brio e razão

Editorial

1. Na semana passada comentei aqui que o Conselho de Administração (CA) da ULS da Guarda geriu (mal) a avaria dos aparelhos de broncofibroscopia (como já antes tinha gerido muito mal a inoperacionalidade da ressonância magnética). Comentei então a forma como o Diretor Clínico reagiu à divulgação da notícia e a alarvidade com que de forma fácil o doutor Barreiros apontou o dedo a este jornal por praticar «mau jornalismo» ao informar os seus leitores sobre a incompetência na resolução de um problema de equipamento hospitalar. Obviamente que não quero voltar ao assunto, que suponho esteja a ser devidamente tratado, ainda que não tenham sido devidamente divulgados ou explicados os valores e custos acrescidos com o aluguer de dois aparelhos em Barcelona ou as razões do atraso no processo de aquisição de novos aparelhos (concurso público). Mas não posso deixar de voltar a falar, ainda que de forma superficial (antes que o CA me acuse de perseguição ou acosso), da forma como a ULS da Guarda é gerida. Como se não bastasse o que já basta, com os concursos públicos feitos à medida das necessidades partidárias, para a contratação de apaniguados, filhos e enteados, o CA liderado pelo senhor Rodrigues descobriu agora que, afinal, lá atrás, nos tempos de Fernando Girão, até se fez uma candidatura para requalificar o Hospital Sousa Martins e que, apesar dos esforços para esconder a candidatura e as afirmações contundentes de que não havia dinheiro, afinal a ULS recebe agora 45,8 milhões de euros de financiamento comunitário. A Fase II foi votada ao esquecimento e devia agora ser recuperada e candidatada – O Hospital da Guarda é o maior da Beira Interior e precisa de mais investimento para afirmar e qualificar essa relevância regional, porém, duvida-se que esta administração tenha condições e capacidade para promover essa qualificação. O CA devia começar por anular os concursos públicos que não têm qualquer idoneidade, depois apresentar as contas do que recebeu, do que pagou e o que sobra para investir em meios e pessoas para um melhor hospital. Se não fizer isto urgentemente não merece confiança e deve sair. E, porque a nomeação foi de confiança política, os seus integrantes devem colocar o lugar à disposição, antes que sejam demitidos por inépcia.

2. Nesta edição, e no contexto das 50 maiores empresas do distrito da Guarda, entrevistamos João Cardoso, o homem forte da Coficab, a maior empresa da Beira Interior. Muito para além das explicações sobre a empresa, do seu crescimento ou dos projetos de futuro, o Diretor-Geral da Coficab faz duas referências que nos devem fazer meditar. Em primeiro lugar, ao contrário do que muitos propalam por aí, a localização da empresa na Guarda é um inconveniente; e, em segundo lugar, não há nenhum incentivo racional para manter ou atrair empresas para o interior – Passos Coelho eliminou a taxa diferenciada de IRC (15%), uma discriminação positiva para as empresas do interior. Efetivamente, e como João Cardoso recorda, não há qualquer possibilidade de atrair novas empresas sem majoração diferenciadora. É urgente reivindicar a reintrodução de uma fiscalidade amiga que beneficie o interior e dê sentido à localização, que os políticos quase sempre identificam como privilegiada, quando na verdade é um entrave ao desenvolvimento. As empresas que ainda sobrevivem na região, que aqui pagam impostos e asseguram emprego fazem verdadeiros milagres, pois só com muita arte, resiliência e sacrifício se podem superar as dificuldades e custos da interioridade.

Luis Baptista-Martins

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