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Bom azeite, pouca azeitona

Seca poderá aumentar o preço do azeite no mercado

Ainda mal começou a apanha da azeitona, mas tudo indica que a colheita deste ano se traduzirá numa produção de pouco, mas bom azeite. Com forte tradição olivícola, a Beira Interior assiste este ano a uma produção de azeite fraca, já que a campanha 2005/06 coincide com um ano de contra safra, agravada pela seca que se fez sentir na região.

«Foi um ano terrível para a agricultura e as oliveiras ressentiram-se com a seca», sublinha António Machado, presidente da Associação Distrital de Agricultores da Guarda (ADAG), que também é produtor de azeite. Este ano, a produção poderá sofrer uma quebra «muito significativa», prevê. É que a seca originou uma azeitona «pequena e sem gordura suficiente» para produzir azeite, acrescenta o produtor, que ainda não começou a apanhar a azeitona. No ano passado produziu 300 litros, com 0,5 de acidez, que ainda hoje estão por vender. «Recebi 246 escudos por litro, mas este ano até as ajudas vão diminuir», diz, indignado António Machado. Para o presidente da ADAG, o problema «é que o azeite que está no mercado vem de fora e o nosso, que é de qualidade, fica nas prateleiras». Mas aponta uma solução para não se comprar “gato por lebre”: «Quando comprarem um litro de azeite, coloquem-o no congelador durante algum tempo. Se o azeite coalhar é bom, caso contrário é mau», garante. É por esta e por outras que os agricultores da região se vão manifestar no dia 8, juntamente com a Confederação dos Agricultores de Portugal.

Para Bernardo Messias, coordenador da Cooperativa de Viticultores e Olivicultores de Freixo de Numão, a qualidade do azeite prevista para este ano «é semelhante à do ano passado» e que já garantiu algumas distinções e prémios de nível internacional. Por isso, espera que este ano não seja excepção. Mas quanto à quantidade, estima-se um decréscimo «na ordem dos 40 a 60 por cento», adianta Bernardo Messias. Apesar de ser um valor provisório, «prevê-se uma quebra de produção bastante grande», insiste o engenheiro. Para já ainda não há previsões quanto aos quilos de azeitona colhidos, até porque a campanha só começou esta semana. O problema é que, quando as oliveiras estavam em plena floração, «faltou a água, logo geraram-se poucos frutos», explica. E os poucos que vingaram acabaram por cair agora, com a chuva e o vento que se fez sentir nas últimas semanas, pois «estavam mais secos e mais sensíveis», refere Bernardo Messias. Por tudo isto, o coordenador admite que a seca poderá fazer «disparar» o preço do azeite no mercado, «aliás esse é um problema generalizado e comum a outros países», revela. Por ano, a cooperativa de Freixo de Numão costuma produzir cerca de 200 mil litros de azeite, vendidos no mercado nacional, europeu e não só. Actualmente, exporta azeite engarrafado para a Suíça, França, Alemanha, Dinamarca e Japão.

Azeite em maus lençóis

Na Cooperativa de Olivicultores de Escalhão, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, as previsões também são pouco optimistas. Apesar da campanha estar no início, prevê-se que venha a diminuir «30 por cento», indica Albino Mendes, vice-presidente da cooperativa, mas «este é um número provisório e muito por baixo», adianta. No entanto, a qualidade deverá manter-se igual à do ano transacto. Também este responsável não tem dúvidas que a seca vai mesmo fazer disparar o preço do azeite. Para já, na última Assembleia da Cooperativa ficou decidido vender o azeite novo a 4,5 euros por litro, mais 50 cêntimos que o preço actual. No ano passado, a cooperativa recebeu cerca de 600 toneladas de azeitona e nesta campanha o número será «seguramente mais reduzido», estima o responsável. A colheita prolonga-se até meados de Janeiro. Por seu lado, Renato Amador, gestor da Cooperativa Agrícola de Olivicultores do Fundão, prevê uma quebra de produção «na ordem dos 40 por cento», mas acredita que poderá ganhar proporções «ainda maiores». Previsões que vêm contrastar com a «excelente» campanha do ano passado. Para este ano estão previstos apenas «200 mil litros de azeite», revela o gestor. Tudo por causa da seca que assolou a região. Também Diogo Mendes, da Loca – Lagar Oleícola do Cruzamento de Alcaria (Fundão), se queixa da seca, que vai provocar uma quebra «muito acentuada» na produção, que «deverá rondar os 50 por cento». Por causa das más condições climatéricas, «há uma má formação da azeitona e o fruto não deve vingar», lamenta o responsável. Com base nestas perspectivas, a colheita da azeitona deste ano «deverá rondar os 160 a 170 mil quilos, que são números muito baixos», tendo em conta que em 2004 receberam 300 mil quilos, recorda Diogo Mendes.

Seca faz disparar preço do azeite

A seca que tem assolado Portugal e dado origem a más campanhas agrícolas vai reflectir-se «brevemente num significativo aumento do preço do azeite, já que o custo na origem subiu cerca de 64 por cento só no último ano», informou, em comunicado, a Associação do Azeite de Portugal – Casa do Azeite. Segundo o documento, «só nos últimos três meses, o azeite ficou cerca de 33 por cento mais caro, prevendo-se que possa atingir valores superiores num futuro próximo». Na origem desta subida do preço encontram-se vários factores, «estando o principal relacionado com os efeitos da seca nesta campanha agrícola, com o consequente decréscimo da produção». Para os responsáveis da Casa do Azeite, as previsões para a próxima campanha, que começou dia 1 de Novembro, também não são animadoras, «o que tem justificado a escalada de preços dos últimos três meses». Um cenário que, segundo a associação, poderá fazer «abrandar o consumo de azeite nos países produtores e causar uma quebra nas exportações europeias».

Patrícia Correia

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