Há verdadeiros armários de praia que fazem supor estarmos perante uns bolas de aço. Há os que engoliram a bola de basquete e a passeiam no areal. Temos bolinhas doces que vêm na arca do “Jamaica” que grita que são “bolinhas para todos, viúvas, casados, amantes e veados”. Toca a sineta e lá vem ele, com a tristeza de, após seis anos, não estar ainda legal, com o sorriso estampado, a perna esquerda mais curta e aquele coxear que não descansa. As bolas da praia sabem melhor que no café e se calhar engordam mas dão o mal que fazem no bem que sabem. Neste ambiente de bolas e bolinhas, barrigas e machões, há as meninas instagram que se pavoneiam e se fotografam indiferentes ao mundo fora delas. Exibem torneados bumbuns e belos seios de laranja, ou melão ou até melancia. Por vezes lá vem uma com um biquíni ponteado, com smarties, de bolinhas. Recordo a “Brotoeja” que foi publicada até 1994 e falava de uma menina fanática por roupa com círculos e bolas. Na arte existe Yayoi Kusama que voluntariamente habita uma instituição psiquiátrica e granjeou nome com sua arte obsessiva construída de bolinhas, esferas e alucinações coloridas onde sempre os círculos constroem realidade. A praia é a minha evidência de que a obsessão de Yayoi faz sentido. Nos seus 84 anos Yayoi deve ter lido a “Brotoeja” e deve ter a coleção completa. Os círculos limitam e criam universos. Os Círculos abertos são uma ideia que os maçónicos usam para impedir o isolamento, inimigo do conhecimento. Os banhistas barrigudos não temem a cultura da mesa e do copo, não se inibem e não se escondem. Há mulheres com pequenos círculos que são biquínis e outras com fatos de banho pejados de bolinhas, folhos e fitas. A criatividade em torno de vestuário tão pequeno fascina. Também há mulheres que são bolinhas e se julgam estampas. Há ainda as pessoas que falam de emagrecer entre tremoços e cervejas, amendoins e bebidas gaseificadas. As bolinhas são uma forma importante entre guloseimas de crianças. M&M, donnuts, smarties, pirulitos, ferrero rocher, oreos, etc seguem o padrão bolinhas e discos. Mas do prazer geramos o insulto: estás redondo! Pareces uma bola! E assim se estraga o encanto.
– Vai uma bola de Berlim?
Por: Diogo Cabrita