1. Depois de anos de investimento sem retorno numa loja/posto de turismo regional na parte “morta” da Plaza Mayor de Salamanca, a expensas dos municípios e associações de desenvolvimento da região (supõe-se), há cerca de um ano a CIM das Beiras e Serra da Estrela (CIMBSE) contratualizou com a associação de desenvolvimento Pró-Raia, a renovação da aposta promocional numa loja comercial em Salamanca. Procurou-se um sítio com mais vida e contratou-se uma loja na calle Zamora, próxima a uma das entradas mais concorridas da Plaza Mayor. Depois de meses de obras, numa loja minúscula, entre rés-do-chão e cave, em abril abriu com pompa e circunstância a loja “Beiras e Serra da Estrela – Portugal tan cerca”. Com o maior ruído jamais ostentado por terras de San Juan da Sahagún por conquistadores lusos, com índios pataxó e provas dos produtos de cá, para impressionar os de lá, e a presença de todos os autarcas da CIMBSE, as expetativas eram muito altas quanto à atração de turistas espanhóis à região.
Como é evidente, a aposta até pode fazer sentido, mas não basta fazer a abertura de um espaço em zona comercial, central, desgarrado, mal pensado e sem estratégia para ter sucesso numa cidade que está tão perto, mas tão longe. Há uma enorme distância entre Espanha e Portugal, há uma imensa diferença entre Salamanca e a Serra da Estrela e não são os quilómetros que as separam, é a cultura. Milhares de euros gastos e alguns meses depois a nova loja “Portugal tan cerca” vai fechar por estar “muy lejos” dos objetivos e por estar “muy lejos dos salmantinos” que nem deram conta que ela existia e para que servia.
2. O Cella Bar é um espaço de convívio e lazer, nos Açores, que se transformou num ícone do arquipélago pela arquitetura arrojada que apresenta. Com vistas para o Faial e com a força do Atlântico à porta, o bar que é já um sucesso mundial, é um exemplo de como uma obra de arte – arquitetónica – bem integrada, contextualizada e devidamente aproveitada pela sua utilidade pode ter impacto na sociedade. Com mais de 50 referências de vinho, espaço de provas e sabores, este antigo armazém de vinhos é mais um exemplo de que o turismo gastronómico e vínico tem fiéis seguidores por todo o lado.
O Hotel Marquês de Riscal, em Elciego, na Rioja espanhola, é outra prova extraordinária de como a combinação entre a cultura do vinho, a cultura, a arte e a arquitetura combinam de forma extraordinária. Por entre as vinhas do Marquês de Riscal, numa aldeia a sul do País Basco, Frank Ghery desenhou uma obra de arte titânica, que “muda de cor” com a luz solar e as cores outonais das videiras, um hotel de sucesso mundial frequentado por quem pode, e por quem aprecia o enoturismo, a natureza, a comida, a arte, a cultura…
Bem mais perto, em Unhais da Serra, no sopé da Estrela, o Hotel H2O é um caso exemplar de sucesso hoteleiro combinando a natureza e a arte arquitetónica.
Há seguramente muitos exemplos surpreendentes que combinam valores tão próximos como a natureza, a cultura, a arte e a arquitetura e que são requisitados e escolhidos por especialistas e viajantes. Por turistas desprendidos e apaixonados pelo ambiente, pela arte, pelo vinho, pela gastronomia, pela saúde…
Nesta edição de O INTERIOR apresentamos em exclusivo e em primeira mão um exemplo em termos de investimento e de estratégia. Em breve, em Longroiva, no concelho da Mêda, será inaugurado um hotel termal delicado, charmoso, precioso, requintado… Devidamente qualificado e integrado no ambiente termal da aldeia, próximo de produtores de vinhos exuberantes e de azeites finos e elegantes. A apenas alguns quilómetros de Marialva, onde as Casas do Côro são um exemplar excecional de qualidade e requinte, perto dos Patrimónios Mundiais do Vale do Côa e o do Alto Douro Vinhateiro, o complexo que desvendamos nesta edição, é, como o Unhais da Serra ou o de Marialva, um projeto onde se aposta na qualidade superior e diferenciadora que confirma que também no interior há grandes ideias, bons projetos e capacidade e dimensão para os executar.
Luis Baptista-Martins