O passo apressado dos trabalhadores da Delphi não permitiu mais que a distribuição de “flyers” alusivos às propostas e à constituição das listas para a Câmara e Assembleia Municipal (AM) do Bloco de Esquerda na Guarda. Apesar da aparente indiferença dos funcionários da fábrica da Guarda-Gare nesta acção de campanha realizada na passada quinta-feira, o cabeça-de-lista bloquista à autarquia continua convicto de que é possível ser eleito vereador e aumentar o número de eleitos na AM.
De resto, Jorge Noutel não considera que tenha havido indiferença por parte dos trabalhadores, mas antes «preocupação e tristeza» em relação ao seu futuro: «Não sabem o que lhes vai acontecer. Imaginemos qualquer um de nós a viver em cima de um lume cheio de brasas…», exemplifica. O candidato mostra-se «apreensivo» com o futuro da fábrica de cablagens, sublinhando que o Bloco não quer «estar a espevitar fantasmas nem a relembrar situações já vividas, mas temos que ter algum cuidado com estas situações». Jorge Noutel diz-se favorável à instalação de outras grandes empresas no concelho, uma vez que só elas podem «dar a hipótese às pessoas para terem uma vida com mais decência e com perspectivas de futuro, não só para quem neste momento trabalha, mas também para os seus filhos». Contudo, para que essa fixação possa ocorrer tem que haver «primeiro aquilo que definimos como os incentivos, ou seja, um investimento público em sectores fundamentais para atrair as empresas. Então sim, depois de feitos esses investimentos, essas empresas irão surgir de certeza absoluta», considera.
E dá o exemplo da questão da saúde: «Aqueles remendos e ampliações que se estão a fazer no hospital não são solução nenhuma. Porque é que Beja e Braga tiveram um hospital novo e nós não e há menos tempo que o reivindicam. Não percebemos porque é que isto nos está a acontecer. Será malapata?», desabafa. É que, na sua opinião, «ninguém quer localizar uma empresa numa região em que não existem essas infraestruturas, como também não há uma infraestrutura em termos de transportes públicos», dando mais uma vez o exemplo dos funcionários da Delphi que ficariam a ganhar caso houvesse transportes públicos que lhes permitissem deslocar-se «para o seu local de trabalho a horas» e que seriam um ganho «em termos de ambiente e no gasto pessoal em termos de combustível». Quando tinham passado quatro dias de campanha oficial, o cabeça-de-lista do BE estava satisfeito com o modo como estava a decorrer, sublinhando que as pessoas têm «dialogado», embora tenha voltado a denunciar o «medo» que, «infelizmente, voltou às mentes e às acções das pessoas».
Ricardo Cordeiro