A população de Alfaiates, no concelho do Sabugal, acusa o Bispo da Guarda de querer tomar de “assalto” a Santa Casa da Misericórdia local, proprietária do lar de idosos. Falam em interesses menos claros, nomeadamente numa conta bancária da instituição com cerca de 740 mil euros das contribuições dos habitantes da aldeia ao longo dos anos.
Duas dezenas de populares e funcionários concentraram-se, na passada quinta-feira, à porta do lar em sinal de protesto contra a decisão de D. Manuel Felício. O prelado nomeou, por decreto, uma comissão administrativa para dirigir a Misericórdia em vez de validar a lista, encabeçada por Joaquim Vaz, eleita, por larga maioria, a 7 de Fevereiro e depois a 14 de Março. Contudo, ambos os sufrágios foram anulados com o argumento de que os Irmãos não estavam habilitados a votar por não terem jurado o Compromisso ao provedor. «É uma falsa questão, porque quem votou tem as quotas em dia. Nós cumprimos tudo o que foi pedido», reage Fernando Cordeiro, denunciando a inscrição fora de prazo de irmãos por parte dos adversários. Este elemento da lista vencedora recusa a nomeação do diácono António Lucas para provedor, à frente da comissão administrativa, e garante que «o povo não está disposto a aceitar quem não foi eleito». De resto, os membros daquela comissão adiaram sucessivamente a sua ida ao lar, a última das quais estava marcada para 1 de Abril.
«Mas também é certo que não os deixaremos entrar, ou serão expulsos se o conseguirem, porque não são bem-vindos», avisa. Para Fernando Cordeiro, «o lar é a única coisa válida que ainda cá temos e não a vamos deixar fugir», promete, adiantando que o caso pode ir parar aos tribunais se o impasse não se resolver. Denunciando aquilo que considera uma «injustiça», Alfredo Esteves, membro da comissão popular que construiu o lar no início da década de 90, alega que o bispo nem sabia da existência da instituição, «que o povo ergueu sem a ajuda de ninguém, e agora quer tirar-nos o que muito nos custou». Em Alfaiates, cuja Misericórdia conta já com 800 anos de existência, fala-se mesmo no dinheiro que a Santa Casa possui em contas bancárias, uma das quais teria um saldo de cerca de 740 mil euros. «É o dinheiro que está em causa», critica, avisando que, «à boa ou à má, é o povo que tem que tomar conta do lar». De resto, a lista vencedora já anunciou a intenção de fazer uma auditoria às contas do lar e da Misericórdia.
Também as funcionárias consideram que é preciso mudar de direcção. «Queremos trabalhar com condições, o que não temos tido, pois a gestão desta casa é uma desorganização», queixa-se Susana Almeida, para quem os lares de terceira idade e centros de dia são «a única fonte de emprego» nas aldeias da raia. Actualmente com 12 funcionárias, o lar de Alfaiates acolhe cerca de 50 utentes e presta apoio ao domicílio de mais 10 idosos. Florinda Batista, de 86 anos, é uma delas e também se juntou aos protestos: «O lar é de Alfaiates. A Diocese não contribuiu nada para a sua construção, pelo que o senhor Bispo só tem que acatar as ordens do Vaticano ou do Patriarcado de Lisboa, aqui não manda nada», disse. Apesar de solicitado, O INTERIOR não conseguiu, em tempo útil, um comentário de D. Manuel Felício.
Luis Martins
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