«Precisávamos de um Governo que não tapasse aos portugueses o Sol com uma peneira, mas que enfrentasse os problemas e que os resolvesse», declarou o Bispo da Guarda na passada quinta-feira, após o Conselho de Ministros ter aprovado o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
No dia da sua tradicional mensagem de Natal, D. Manuel Felício lembrou que «este é o primeiro passo» para a legalização e disse esperar que nos próximos «impere o bom senso, para darmos às coisas o estatuto que têm e não queiramos extrapolar da realidade». O bispo lembrou, a propósito, a situação financeira que vive Portugal, referindo que «ainda na semana passada, vozes autorizadas vieram dizer que o nosso défice externo vai em 110 por cento, o que significa que, se andássemos um ano inteiro a trabalhar, sem comer ponta de alimento e apertando o cinto, não pagávamos a dívida externa». E acrescentou: «Assim como os senhores da ecologia reunidos em Copenhaga tinham obrigação de não encobrir os problemas, também o nosso Governo devia olhar para os problemas, considerá-los devidamente e debruçar-se sobre eles, reunindo o maior consenso possível e não fugir às questões, porque isto [a decisão] parece ser fugir às questões».
O Governo aprovou, na última quinta-feira, alterações ao Código Civil que possibilitam o casamento entre pessoas do mesmo sexo, sendo excluída a possibilidade destes casais poderem adoptar crianças. «Temos que estar sempre preparados para intervir activamente nos assuntos que condicionam a nossa vida pessoal e social, sobretudo em assuntos que envolvem valores de fundo como estes, porque a instituição familiar não é uma instituição qualquer», sublinhou D. Manuel. Tomando a família como «o garante da estabilidade e do futuro da própria humanidade», o Bispo da Guarda defendeu ainda que «não se pode agredir de forma acintosa, como uma atitude destas parece dizer, instituições tão condicionantes da nossa vida em sociedade, porque senão estragamos a vida das pessoas». Por outro lado, disse esperar que o debate público à volta do assunto «seja a oportunidade para as pessoas tomarem consciência dos valores que estão em jogo».
À margem deste tema, D. Manuel traçou um quadro de esperança para 2010, que deve passar pela mobilização do empreendedorismo. «É isso que eu queria ver implementado e não vejo. Que me interessa que tenhamos uma plataforma industrial onde se gastaram três milhões de euros se não estamos a beneficiar e não sabemos quando vamos beneficiar? Era melhor pegar nesse dinheiro e motivar as pessoas a procurarem os seus empregos», atirou. Quanto à mensagem de Natal, o bispo acusou «os grandes mentores do estilo de vida que nos é proposto» de «não quererem perceber que a crise que continuamos a atravessar é mais que económica e financeira», é antes uma «crise de civilização e, essencialmente, dos valores necessários para dar verdadeiro sentido à nossa vida pessoal e comunitária».
Rafael Mangana
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