A Câmara da Guarda deverá em breve dar conta da sua insatisfação junto do Ministério da Economia e da Entidade Reguladora do Sector da Energia (ERSE) por os habitantes da cidade serem obrigados a despender um valor superior ao que um consumidor de gás natural do Porto, por exemplo, paga para os mesmos metros cúbicos. A Beiragás – que serve os distritos da Guarda, Castelo Branco e Viseu – é uma das cinco distribuidoras do país que pratica um preço superior à média nacional.
Um cenário que deixa insatisfeito Joaquim Valente: «Obviamente que não vemos essa situação com bons olhos. O gás natural deve entrar no país todo ao mesmo preço e deveria haver uma tarifa única nacional», defende. Para o autarca da Guarda, esta disparidade «não é justa», daí considerar «importante» que o Estado, «enquanto entidade reguladora, crie os mecanismos necessários de forma a que possa haver uma tarifa única para o gás natural, bem como para qualquer outro recurso», frisa. Deste modo, a Câmara da cidade mais alta vai fazer chegar «aos locais próprios e a quem compete que esta informação chegue», nomeadamente o Ministério da Economia e a ERSE, um protesto contra esta situação que «gera ainda maiores desequilíbrios relativamente a zonas que têm uma maior densidade populacional», salienta. «Nós percebemos a lógica da sustentabilidade, e sabemos que são empresas que estão a fazer a exploração e a distribuição do gás natural, mas não é justo que sejamos sempre nós a contribuir para os custos sociais que já existem nas grandes metrópoles e de que não usufruímos», contesta Joaquim Valente.
Também Miguel Bernardo, presidente da comissão executiva da Associação Empresarial da Covilhã, Belmonte e Penamacor (AECBP), vê «com desagrado» a diferença de preços praticados, até porque para quem «já tem outros óbices, ter custos energéticos mais caros está errado, pois ainda vem criar mais disparidades», lamenta. De resto, «não se pode brincar com a questão da energia e isso vai reflectir-se no preço final dos produtos», sublinha. Relembrando que a instalação do gás natural na Covilhã «não foi um processo pacífico», e sem querer falar em nomes, o dirigente acusou algumas entidades «que na altura se mostraram tão interessadas» na sua instalação de estarem agora «caladas e não se manifestarem contra o preço». A Beiragás é uma das distribuidoras que cobra dos preços mais altos pelo gás natural a par da Medigás (Algarve), Lisboagás, Setgás (Setúbal) e a Duriensegás (Interior Norte), onde se verifica o pior cenário de todos. Estes dados remontam a finais de 2005, sendo que a situação se terá agravado na sequência de novos aumentos registados no ano passado, e constam de um relatório publicado no site da ERSE.
Aliás, segundo a “Caracterização do sector do gás natural em Portugal”, apenas nos distritos de Santarém, Leiria e Portalegre (abastecidos pela Tagusgás), Évora (Dianagás) e Porto (Portgás) os preços são inferiores à média nacional. Esta variação substancial dos preços do gás natural ao longo do país deverá terminar em Julho de 2008, altura em que a ERSE passará a fixar as tarifas. Entre outros dados, constantes no extenso documento, é possível verificar que desde 2000 até ao final de 2005, a Beiragás subiu os seus preços em 70,7 por cento. Apesar das várias tentativas feitas por “O Interior” junto da empresa em Viseu, não foi possível até ao fecho desta edição contactar o director comercial da distribuidora para saber quais as razões que levam a que o preço do gás natural na região seja mais caro que a média do país.
Ricardo Cordeiro