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Beira Interior lidera área ardida

Serviço de Florestas da DRABI sem director há mais de um ano

O distrito de Castelo Branco tinha até 14 de Setembro a maior percentagem de área ardida, 24 por cento, com 89.330 hectares, seguindo-se 18 por cento do distrito de Portalegre, 16 por cento de Santarém e 12 por cento de Faro. O balanço da Direcção Geral das Florestas, entre 1 de Janeiro e 14 de Setembro, destaca ainda a região agrária da Beira Interior como aquela que mais sofreu com os incêndios florestais, tendo ardido 39 por cento (147.918 hectares) de floresta e mata, seguindo-se o Alentejo, Ribatejo e Oeste e Algarve, com cerca de 25 por cento cada uma. No distrito da Guarda, arderam cerca de 50 mil hectares. Números recordes da década que ainda não incluem os fogos de há quinze dias.

Entre a área queimada figuram 22.000 hectares de zonas protegidas, o que segundo as estatísticas do Instituto da Conservação da Natureza, bateu o recorde da última década. No caso do Parque Natural da Serra da Estrela, terão ardido este ano mais de nove mil hectares, ou seja, mais de quatro vezes a área total ardida no PNSE em 2002. Além dos prejuízos materiais, os incêndios provocaram 20 mortos, dois dos quais na Guarda, e levaram à detenção de 91 pessoas suspeitas de fogo posto, tendo sido detidos 12 alegados incendiários na Beira Interior. Curiosamente, na região mais afectada, o Serviço de Florestas da Direcção Regional de Agricultura está sem director há mais de um ano, tendo sido delegadas competências em matéria de prevenção e luta contra os incêndios nas zonas agrárias. A DRABI gere qualquer coisa como 30 mil hectares de floresta em toda a região, mas os 39 postos de vigia da sua responsabilidade (16 dos quais no distrito da Guarda) só funcionaram durante o dia, segundo pôde apurar “O Interior”. Contudo, estas estruturas fundamentais na detecção de incêndios debateram-se ainda com um problema mais grave. É que o sistema de comunicação do Serviço de Florestas falhou e as informações nos momentos mais críticos «andaram de posto de vigia em posto de vigia até à central», refere fonte conhecedora do processo. O mesmo técnico garante, por outro lado, que um projecto de prevenção florestal, destinado nomeadamente à zona da Serra da Estrela e que foi apoiado com 30 mil contos no âmbito do regulamento comunitário 21/58, «não teve qualquer taxa de execução». De resto, a catástrofe deste Verão tornou clara a necessidade de alterar alguns procedimentos administrativos, nomeadamente os respeitantes aos projectos florestais, que são «altamente burocráticos», o que motiva o abandono de terrenos e matas. «Um projecto florestal tem que aguardar aprovação para avançar, um projecto agrícola tem efeitos retroactivos. O primeiro necessita de cartografia digital, o segundo não», nota a mesma fonte. Estes e outros problemas terão contribuído para a dimensão dos fogos na Beira Interior. A nível nacional, a área ardida ultrapassa os 400 mil hectares, mais do dobro do anterior recorde, segundo os últimos dados da DGF divulgados na semana passada. Um dado que já tem em conta os últimos fogos da segunda quinzena de Setembro, que, com base em estimativas da DGF, terão queimado cerca de 32.500 hectares. Desde que se fazem estas medições, o ano de 2003 é de longe aquele com maior área rural consumida pelas chamas. Nas últimas duas décadas, o ano de 1991 detinha o anterior recorde de área ardida, com 182.486 hectares.

Este ano, até 14 de Setembro, foram contabilizados 3.813 incêndios florestais e 12.790 fogachos, menos do que em igual período do ano passado mas com uma área ardida que aumentou em 261.520 hectares, consequência dos grandes fogos de Agosto. Só nove incêndios foram responsáveis por 180.099 hectares de área ardida, um número idêntico ao total de área ardida em 1991 e que era até agora o recorde. Comparando com os dados anuais dos últimos 10 anos (desde 1993), em nenhum ano o conjunto da área ardida se aproximou do total consumido em apenas duas semanas (de Julho e Agosto) deste ano. O número mais próximo foi o registado em 1995, com 169 mil hectares ardidos. “O Interior” tentou, até ao fecho desta edição, obter declarações da DRABI, mas sem sucesso.

Luis Martins

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